Índia — modo de usar (parte 1)

Todo mundo que tem vontade de ir à Índia certamente já teve várias dúvidas a respeito das possíveis dificuldades que um turista pode enfrentar por lá. E nove entre dez pessoas que já foram certamente vão contribuir para essas dúvidas, mencionando vários perrengues da viagem.

Não sou marinheiro de primeira viagem, e já visitei alguns destinos, digamos, exóticos. Por isso, minha percepção para o que representa um perrengue em viagem pode ser um pouco mais resistente. Mas a Índia, é fato, evoca um imaginário turístico que é capaz de misturar alta espiritualidade com diarréias persistentes, palácios refinados com pobreza extrema; danças de Bollywood com vacas andando no meio da rua. Tudo o que te disseram é verdade, mas não é bem assim. Vou tentar explicar um pouco sobre isso neste texto.

Rua de Old Delhi com tuk tuk

Pra fechar essa introdução, devo dizer que não acho que a Índia seja um destino “ame ou odeie”. É possível amar algumas das coisas da viagem, e odiar outras. Como, penso eu, em qualquer lugar e em qualquer viagem. De todo modo, é um destino do qual ninguém sai incólume. Uma viagem para se lembrar para o resto da vida, sem dúvida, com todos os seus sentidos.

Como viajar pela Índia — contratar uma agência ou por conta própria?

Em geral, não gosto de fazer viagens com guias e pacotes. Esse é meu estilo, mas não vejo problema nenhum em quem viaja deste modo: cada um tem sua forma de fazer as coisas, o importante é viajar. Para a Índia, porém, depois de falar com algumas pessoas que já haviam ido, de ler alguns textos na internet, resolvi fechar a viagem com uma agência. Não me arrependi de fazer a viagem assim, mas vou falar o que eu achei legal e o que eu achei ruim dessa opção. No final desse tópico, relatarei um pouco do que eu acho de viajar por conta própria para lá, que é o estilo que eu costumo adotar para outros lugares.

Mesmo procurando por uma agência, há diferentes opções. Você pode contratar pacotes fechados, com destinos já predeterminados pela agência. Isso é legal para quem não quer ter o trabalho de pesquisar sobre o destino ou não tem nada em mente sobre locais específicos; normalmente a agência já escolhe os mais procurados pelos turistas. O problema, para mim, é que esses pacotes vêm com datas de início e fim já fechadas, e eu normalmente marco minhas férias para depois montar a viagem. De todo modo, vou indicar duas agências gringas com diferentes pacotes já prontos para você escolher: a Intrepid Travel e a G Adventures. A primeira foi indicada por uma amiga minha, e eu quase fechei com eles o pacote “North India Revealed”, o mesmo que ela fez. Segundo ela, tem um serviço bom, mas não é nada luxuoso — o que se reflete no preço, que não é muito caro. A segunda ela me indicou também, mas não conheço ninguém que tenha usado os serviços dela. Apesar de serem agências estrangeiras, você pode contratar os pacotes pela internet, tudo muito simples.

Forte Mehrangarh em Jodhpur

Eu preferi montar minha própria viagem, mas preciso dizer que não foi muito diferente desse roteiro da Intrepid Travel ou de outros disponíveis na internet. A diferença foi poder escolher quanto tempo ficar em cada lugar e fazer um desvio ou outro. Meu roteiro foi mais ou menos o seguinte: Delhi, alguns destinos no Rajastão (Jodhpur, Udaipur, Bundi, Pushkar e Jaipur), Agra, Khajuraho, Varanasi, Bodhgaya e Mumbai. Dá para fazer isso entre 20 e 30 dias, a depender de quanto tempo você ficar em cada destino, do que quiser ver no Rajastão e dos deslocamentos. Éramos apenas duas pessoas, mas acho que é possível montar também para um grupo maior.

Eu usei os serviços de uma agência indiana, que uma outra amiga, que já morou na Índia, costumava usar. Não vou indicar aqui, pois tive alguns problemas, que eu vou tentar relatar nestes textos. De todo modo, não foi nada do outro mundo ou incontornável, e eu acho que muitos dos problemas que eu tive são comuns a quase todas elas, pelo que eu percebi conversando com outros turistas no decorrer da viagem; portanto, se alguém quiser o nome e o contato dela, eu posso passar por e-mail. Só não quero ficar fazendo propaganda mesmo. Além disso, os roteiros e serviços são bem parecidos, então não teve nada de muito diferenciado nesta que eu contratei. Pelo que eu pude perceber das pesquisas que eu fiz antes de contratá-la, agências do Brasil oferecem serviços parecidos e com preços só um pouco mais caros — por isso, se você tem alguma agência de confiança aqui, de repente compensa ir com ela. Caso contrário, o ideal é sempre pedir referências.

Palácio de Bundi, no Rajastão

Como disse, o legal dessa opção foi poder escolher algumas coisas específicas que eu não tinha nos pacotes fechados e ajustar o início e o final com minhas férias já marcadas. Também foi bacana ter guias em boa parte das cidades e atrações, embora a qualidade deles tenha variado. Além disso, considerando-se o assédio ao turista, bastante presente na Índia, os guias e motoristas da viagem ajudavam a dar uma espantada nessas pessoas — o que não significa que o assédio tenha desaparecido por completo. Também nos auxiliavam com coisas práticas, como trocar dinheiro, comprar ingressos para as atrações, deslocamentos etc.

Outra vantagem de ter uma agência lá é que tivemos problemas com um voo cancelado e, como ele havia sido comprado na agência, eles resolveram para a gente. Tivemos um custo extra, claro, mas foi uma mão na roda ter quem ajudasse a colocar em prática um plano B depois do cancelamento.

Túmulo de Humayun em Délhi

Já os problemas, parecem-me, são aqueles de toda viagem feita com agências e guias contratados. Por exemplo: eles adoram parar naquelas lojinhas dos amigos e conhecidos, e é claro que o que você comprar lá vai sair um pouco mais caro por causa das comissões. Como não estávamos num grupo com várias pessoas, às vezes simplesmente dizíamos que não tínhamos interesse em ver aquele “artesanato”, que a mala já estava cheia, que não tínhamos mais dinheiro para gastar, que estávamos cansados dos passeios e queríamos voltar para o hotel, dentre outras desculpas de praxe. Às vezes aceitávamos ir pela curiosidade em ver algum produto específico, e realmente a Índia é um paraíso para quem gosta de comprar coisas típicas. Mais adiante vou tentar falar um pouco sobre isso.

Além disso, embora a viagem dessa forma que eu escolhi não seja tão engessada como os pacotes fechados, você sempre fica um pouco dependente das escolhas da agência e do guia. Não houve forma de convencer nossos guias em Délhi, por exemplo, a nos levar no Forte Vermelho, uma das principais atrações da cidade — e olha que tentamos em dois dias diferentes. Disseram-nos que ele estava mal cuidado, que o preço cobrado não compensava, que veríamos a mesma coisa em Agra. Em todo caso, quase sempre sobrava um tempo no final do dia, ou nos dias previstos apenas para o deslocamento entre uma cidade e outra, quando a gente aproveitou para bater perna sozinho.

Fatehpur Sikri, perto de Agra, supostamente parecido com o Forte Vermelho em Délhi

Outro ponto a respeito da montagem dos roteiros é sobre hospedagem. É possível fechar com as opções de hospedagem da própria agência ou fazer a pesquisa e reservar por conta própria. Nós preferimos esta segunda opção, mas vou falar de hospedagem num próximo tópico, então segura a leitura até lá.

Antes de montar o roteiro, eu li o excelente texto da Mari Campos (http://www.maricampos.com/india-como-eu-fui/) e peguei o contato de duas agências que ela indica ali. Não cheguei a entrar em contato com a Indian Routes, pois eles, salvo engano, só trabalham com roteiros fechados. Cheguei, porém, a mandar e-mail para a Banyan Tours, e tive uma resposta ruim. Quer dizer, há uns três anos, entrei em contato com eles uma primeira vez, e fui muito bem atendido por uma agente chamada Lucy, que entendeu a minha proposta, fez um roteiro com preços razoáveis, enfim, foi bastante atenciosa. Infelizmente não foi possível viajar naquela ocasião. Já no ano passado, quando entrei em contato novamente, não responderam a minha primeira mensagem; depois, responderam dizendo que eles são uma agência de viagens de luxo, com preços de acordo. Ou seja, faltaram dizer que não eram para o meu bico. Mas o relato da Mari Campos sobre eles é bem bacana (se bem que já tem mais de 3 anos também, essas coisas podem mudar). Devo dizer que vi carros da Banyan durante minha viagem em alguns lugares; eram carros mais confortáveis, de fato, mas não sei dizer sobre os demais serviços oferecidos.

Ghat às margens do Ganges em Varanasi

E, baseado nestas experiências, é possível fazer a viagem para a Índia por conta própria? Depois da viagem feita, minha conclusão é que, para um viajante com certa experiência, que já montou viagens por conta própria antes, é possível, sim. Você talvez terá que lidar com alguns perrengues extras, mas não acho que seja algo do outro mundo. Acho que o pior serão as questões do assédio ao turista, que eu já mencionei, e do deslocamento, que envolve uma certa logística. Sobre isso vou tentar falar um pouco no tópico sobre transporte.

Esculturas na Ilha Elefanta

De todo modo, algumas experiências de atividades extras que nós fizemos por conta própria durante a viagem (por exemplo, o passeio para a Ilha Elefanta, perto de Mumbai), me mostraram que dá para fazer a viagem sem agências, sim, ou talvez as contratando apenas para coisas bem específicas. O guia de Mumbai queria cobrar 100 dólares para esse passeio, e no final gastamos bem pouco para fazê-lo por conta própria, sem grandes percalços.

Só acho que você deve evitar fazer isso sozinho(a) — se for viajar sozinho(a), vá com uma agência, é mais seguro. E tome as precauções normais: avise sempre em casa onde você está, tenha em mãos o telefone da embaixada do Brasil em Délhi ou de algum dos consulados (Mumbai e Calcutá), use serviços indicados por alguém de confiança.

Meu roteiro pela Turquia

A clássica de İstambul: Aya Sofya

A clássica de İstambul: Aya Sofya

Em 2009, quando morei em Berlim, passei uns dias em Istambul antes de voltar para casa. Ali já me encantei com a cidade e com a Turquia, e fiquei com vontade de voltar. Na época, como estava com uma mala gigantesca (depois de três meses de Berlim…), resolvi ficar só em Istambul mesmo, para não ter que ficar me deslocando com o trambolho.

Neste ano, surgiu a oportunidade de voltar, e eu quis colocar outros lugares para conhecer. Precisaria voltar a Istambul, já que meus outros companheiros de viagem não conheciam a cidade, mas eu nem me importei — Istambul tem material para muitas visitas! Além disso, seria imprescindível conhecer a Capadócia. Também queríamos conhecer um pedaço da costa da Turquia, pois algumas fotos mostravam paisagens lindas. Com isso montamos o roteiro.

Konak Meydanı, İzmir

Konak Meydanı, İzmir

Iniciamos por Izmir, a terceira maior cidade da Turquia, na costa do Mar Egeu. Lá não tem praia — até é possível visitar algumas próximas — mas, sendo uma cidade grande, a utilizamos como ponto de partida. Assim, voamos direto para lá — a conexão em Istambul foi meio corrida, mas a imigração foi incrivelmente rápida, e conseguimos pegar o voo a tempo. Infelizmente o mesmo não aconteceu com nossas malas (só uma chegou), mas elas foram entregues no hotel no dia seguinte. Mesmo sem praia, a cidade tem um calçadão beira-mar agradável com restaurantes e algumas atrações, que podem ser visitadas num dia com tranquilidade. Usamos Izmir também para fazer uma viagem bate-e-volta até Bergama, ao norte, onde ficam as ruínas da cidade grega de Pergamon — nome também de um dos principais museus de Berlim, já que um dos templos do local foi retirado dali e levado até a Alemanha (mais informações neste texto).

Acropolis de Pergamon

Acrópole de Pergamon

Forte Ayasuluk em Selçuk

Forte Ayasuluk em Selçuk

Preciso comentar que em Izmir também pegamos um carro alugado que usamos tanto para conhecer Pergamon como para a primeira parte da viagem. De Izmir rumamos ao sul, até Selçuk, uma cidade pequena mas bastante pitoresca, cerca de uma hora de viagem. O objetivo era visitar Éfeso, uma das cidades antigas gregas mais bem preservadas. O sítio de Éfeso ficam bem próximo a Selçuk, que também tem algumas outras atrações, como o que sobrou do antigo Tempo de Ártemis (uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo), as ruínas da Basílica de São João, a mesquita Isa Bey e a Casa de Maria. Ou seja, há bastante para se ver em Selçuk, e achamos a cidade bem preparada para receber o turista, apesar de pequena. Em todo caso, a maioria dos roteiros oferecidos pelas agências prevê estadia em Kuşadası, uma cidade de praia nas proximidades. Preferimos ficar em Selçuk porque é mais próxima das atrações — algumas dá para conhecer à pé — e porque li informações de que Kuşadası não é uma das cidades de praia mais charmosas da Turquia. Mas é uma opção também, e com praia.

A famosa Biblioteca de Celso em Éfeso

A famosa Biblioteca de Celso em Éfeso

Piscinas naturais em Pamukkale

Piscinas naturais em Pamukkale

De Selçuk fomos até Pamukkale, mais para o interior, uma viagem de cerca de 3 horas de carro. Incluímos este local no roteiro por causa de sua impressionante paisagem, com montanhas de origem calcária que mais parecem nuvens — o nome em turco, aliás, significa “Castelo de Algodão”. A cidade é bem pequena e bem mais limitada do ponto de vista turístico, mas eu acho que valeu à pena o desvio — a paisagem é bastante impressionante. Além das formações geológicas, é possível visitar as ruínas de Hierápolis, outra cidade antiga que funcionava como estância termal e spa desde o século II a.C., construída na parte de cima das formações rochosas. O teatro antigo de lá foi um dos mais bem preservados que eu vi na viagem.

Teatro de Hierápolis

Teatro de Hierápolis

De lá rumamos para Bodrum, mais umas 3 horas de carro. Escolhemos Bodrum porque era uma região que reunia a possibilidade de aproveitar uma praia com algumas atrações. Também porque o guia dizia que era uma cidade que conseguira se preservar um pouco da invasão dos europeus sedentos por praia e sol, sem se descaracterizar. Isso é em parte verdade: as construções são em geral baixas, mantendo uma vibe de cidade grega; contudo, é impossível não notar um certo ar de balneário eurotrash. A praia que escolhemos para ficar, Bitez, também foi meio decepcionante — nada daquele mar azul, além de ser meio tumultuada — embora tenha alguns restaurantes bacaninhas.

A cidade de Bodrum vista a partir do Castela de São Pedro

A cidade de Bodrum vista a partir do Castela de São Pedro

Em todo caso, gostei bastante da visita ao Castelo São Pedro, construído na época das Cruzadas com pedras retiradas do Mausoléu de Halicarnasso, outra das Sete Maravilhas do Mundo Antigo (dá para ver que várias ficavam na Turquia). O centrinho de Bodrum, com ruas para pedestres, lojinhas e bares, também é bacana; além disso, a península de Bodrum tem várias outras praias, de repente há outras mais bonitas do que a que a gente escolheu. Vai ver você dá mais sorte.

Mercado de peixes de Fethiye, onde há alguns restaurantes

Mercado de peixes de Fethiye, onde há alguns restaurantes

De Bodrum fomos até Fethiye, já na costa sul da Turquia, onde deixamos o carro. Lá só passamos o resto do dia e dormimos uma noite, pois no dia seguinte logo cedo pegamos um barco para velejar por três dias, até Demre. Entretanto, achei Fethiye bem charmosa, e acho que vale alguns dias. Há praias nos arredores, e eu não perderia por nada a praia de Ölüdeniz, considerada uma das mais bonitas da Turquia. Nosso barco até deu uma paradinha lá, mas creio que ela merece uma estadia mais demorada. Um casal neozelandês que estava no barco conosco disse que eles a haviam conhecido antes do passeio e que gostaram muito.

Praia de Ölüdeniz (imagem obtida em http://www.yeniemlak.com/)

Praia de Ölüdeniz (imagem obtida em http://www.yeniemlak.com/)

Uma das praias em que paramos com o gület

Uma das praias em que paramos com o gület

Quero relatar a experiência do barco, chamado de gület em turco, em outro texto. Só gostaria de dizer que pensamos que ficar no barco por três dias seria um perrengue, mas até que foi tranquilo. Dá para tomar banho (com algumas limitações, claro), a comida no nosso barco estava boa (mas não espere nada elaborado) e as paisagens valem muito à pena! A água tem aquela cor azul-esverdeada que não deixa nada a dever às praias gregas. Enfim, foi ótimo para descansar e relaxar.

Um das paradas do gület foi na charmosa cidade de Kaş

Um das paradas do gület foi na charmosa cidade de Kaş

O barco para em Demre, mas é possível pegar um ônibus, incluído no valor do passeio, até Olympos. Dizem que a praia lá é bonita, ainda que Olympos em si seja uma vila sem muitas atrações. Nós, porém, seguimos de ônibus direto para Antalya, também na costa do Mediterrâneo. Antalya foi outra cidade que me deixou uma boa impressão. Tem umas praias, mas só as vi do ônibus, não sei dizer se são bacanas. É que só passamos uma tarde lá. Deixamos as malas num guarda-volumes na rodoviária e pegamos um táxi para o centro histórico, que eu achei bem charmoso. Ruas pequenas, muitos restaurantes, bares e cafés com gente jovem. O Portão de Adriano, numa das entradas da cidade antiga, e o Minarete-Flauta, bem alto e todo de tijolos, também me impressionaram. Eu teria passado uns dois dias lá tranquilamente, só curtindo esse centro histórico — embora uma visita à praia também pode servir de desculpa para demorar-se um pouco mais na cidade.

Detalhe do Portão de Adriano, em Antalya

Detalhe do Portão de Adriano, em Antalya

Telhados de Antalya com o minarete-flauta ao fundo

Telhados de Antalya com o minarete-flauta ao fundo

Infelizmente nosso roteiro não previa uma estadia em Antalya, e já à noite pegamos um ônibus para Göreme, na Capadócia. Era um ônibus noturno: saímos de Antalya por volta das 22h e chegamos em Göreme por volta das 7h da manhã. Como não sei se vou escrever algo específico a respeito, vou deixar aqui algumas dicas e impressões sobre essa viagem de ônibus na Turquia.

Embora as principais companhias de ônibus do país tenham sítios na internet, onde até há opção de se comprar passagens, nós não conseguimos fazê-lo. Cheguei até a enviar um e-mail para uma delas, que me respondeu que, de fato, compras de fora da Turquia não eram possíveis. Pois bem, deixamos para comprar em Izmir, assim que chegamos no país, sem dificuldades. Claro, como isso foi feito quase duas semanas antes da viagem em si, havia lugares de sobra no horário que escolhemos. Talvez, se você deixar para comprar muito em cima da viagem, ou chegar na Turquia pouco antes da viagem de ônibus programada, pode ter dificuldades.

Tínhamos duas opiniões diferentes a respeito dos ônibus na Turquia. A guia de viagem que contactamos disse que não eram muito confortáveis e que não havia ônibus-leito lá. O Lonely Planet afirmava que as viagens eram tranquilas e confiáveis. Aliás, cheguei a ler num guia, salvo engano o Rough Guide — de uma canadense que fez o passeio de barco comigo — que uma viagem de ônibus lá era uma das top experiences da Turquia. O que eu achei: não esperava um ônibus-leito, mas imaginei que fosse um pouco mais confortável. Achei as poltronas apertadas, quase como as dos aviões que a gente pega aqui no Brasil em viagens domésticas. Porém, para ser sincero, dormi a viagem quase inteira, então nem me incomodei muito. Dizem que são servidas algumas bebidas e, de fato, um dos meus companheiros viu o funcionário passando com água, suco, café e chá. Eu não vi porque estava dormindo. Os horários foram respeitados — a chegada foi um pouco depois do previsto, mas nada escandaloso. Enfim, acho que para um brasileiro que já viajou de ônibus por aqui, a viagem, desde que não muito longa, é tranquila, sim, nada muito diferente do que estamos acostumados . Havia vários gringos viajando conosco, indicando que é uma forma confiável de deslocar-se — mas daí a considerá-la uma das top experiences da Turquia é outra história. A companhia em que viajamos foi a Kamil Koç, pode ser que outras tenham ônibus mais confortáveis, mas de alguma forma eu acho isso improvável (outra bastante conhecida é a Metro Turizm).

Museu a Céu Aberto de Göreme

Museu a Céu Aberto de Göreme

Uma última dica a respeito: se for para a Capadócia, não se esqueça de frisar que a viagem é até Göreme (ou Ürgüp, se for essa a cidade onde for ficar). Evite descer na rodoviária em Nevşehir, pois há opções que seguem até as outras cidades da Capadócia. O guia que eu usei alerta para malandros que abordam turistas em Nevşehir, oferecendo hotéis e transporte até o destino final. De fato, quando o ônibus parou ali, descemos para dar uma esticada nas pernas e recebemos abordagens meio estranhas. Se não conseguir, tente contato com o hotel que você reservou e veja se é possível que eles busquem vocês em Nevşehir, que é bem próxima de Göreme.

Vale Paşabağı, Capadócia

Vale Paşabağı, Capadócia

A estadia na Capadócia foi de três dias, com guia e passeios já contratados. Ficamos baseados em Göreme e fazíamos os deslocamentos em uma van até as outras cidades e atrações. Os três dias foram suficientes e vimos muita coisa, mas, se você estiver com mais pressa, acho que dá para cortar um deles. Só tenha em mente o seguinte: os famosos passeios de balão às vezes são cancelados por questões climáticas. No dia em que chegamos, conhecemos dois americanos que estavam fazendo check out no  hotel; eles contaram que, no dia anterior, os balões tinham sido proibidos de voar, e como eles já estavam indo embora, acabaram não conseguindo fazer o passeio. Assim, mais dias representam uma maior flexibilidade, caso o balão não saia no dia marcado.

Passeio de balão na Capadócia

Passeio de balão na Capadócia

De lá pegamos um avião até Istambul, onde ficamos alguns dias até a volta. São dois os aeroportos que servem a Capadócia: o da já mencionada Nevşehir, e o de Kayseri, que foi de onde saímos. Kayseri é um pouco mais distante que Nevşehir, mas acho que compensa fazer uma pesquisa nos dois aeroportos, para ver o preço e o horário mais adequados para você. Só tenha em mente que, se for sair/chegar em Kayseri, o deslocamento é um pouco mais longo.

Indo para o aeroporto de Kayseri

Indo para o aeroporto de Kayseri

Istambul merece textos à parte, então vou encerrar o texto por aqui. Gostaria de fazer apenas algumas observações extras. O aluguel do carro e o tour na Capadócia foram contratados, ainda do Brasil, com a agência Argeus Tours (baseada em Ürgüp, na Capadócia), com a simpática Cíntia. Os preços não são exatamente baratos, mas gostamos do serviço. Nosso guia na Capadócia falava português e foi bom não ter que se preocupar com os deslocamentos, essenciais nessa região. Ela até elaborou um roteiro para o restante da viagem, mas acabamos fechando só o aluguel do carro e o tour na Capadócia mesmo. Sinceramente, foi tranquilo montar o restante da viagem por conta própria, mas se você estiver inseguro ou com preguiça mesmo, pode fechar tudo com eles.

Estrada entre Selçuk e Pamukkale

Estrada entre Selçuk e Pamukkale

Dirigir na Turquia foi bastante tranquilo: as estradas são boas, e muitas estavam duplicadas. A maior parte dos pedágios são automáticos — ainda estou aguardando a cobrança no cartão, então não sei dizer o valor. A própria Cíntia nos sugeriu o aluguel do carro nesta primeira parte da viagem e eu já tinha lido relatos de brasileiros na internet que também o recomendavam; de fato, gostamos da experiência e da liberdade de deslocamento que ele dá. Dentro das cidades, porém, pode ser difícil localizar-se e estacionar. Em Bodrum penamos para achar o hotel e para estacionar perto do centro, onde estão algumas atrações. Um GPS é fundamental; se você não tiver, alugue um. Outro ponto negativo de alugar um carro é o preço da gasolina na Turquia, que é caríssima. Tente um carro a diesel, que é um pouco mais barato. Para devolver o carro em Fethiye, pagamos uma taxa de deslocamento, mas nada estratosférico.

O mirante com esta linda vista fica na estrada entre Bodrum e Fethiye

O mirante com esta linda vista fica na estrada entre Bodrum e Fethiye

Não viajamos de trem na Turquia, e no nosso roteiro, salvo engano, só seria possível fazê-lo entre Izmir e Selçuk. Há, porém, os já mencionados ônibus. A diferença é a pouca flexibilidade no horário, além do deslocamento até as rodoviárias em cada cidade. Em todo caso, se os sítios das companhias de ônibus não permitem a compra daqui do Brasil, você pode pelo menos olhar os horários e se programar minimamente. Com estas dicas, espero que você se divirta e se encante pela Turquia tanto como eu.

Bangkok — onde ficar e como se deslocar

Monge no Wat Pho

Monge no Wat Pho

Sei que a maioria das pessoas viaja para a Tailândia para visitar algumas de suas praias paradisíacas. E, vamos combinar, a Tailândia tem praias lindíssimas mesmo. Mas isso não significa que Bangkok, sua capital, deva ser ignorada. Primeiro que você provavelmente passará por lá para ir para um desses destinos de praia. Alguns lugares mais movimentados, como Phuket, até têm voos internacionais para outras cidades da Ásia, como Singapura e Hong Kong. Porém, dependendo do destino e de onde você estiver vindo, vai ter que passar em Bangkok. E deixar passar a oportunidade de conhecer a capital do país é imperdoável.

O lindo Wat Phra Kaew

O lindo Wat Phra Kaew

Tudo bem, a cidade é bastante caótica, como uma típica cidade asiática. Mas Bangkok consegue ser ao mesmo tempo uma cidade moderna, com arranhacéus, restaurantes vistosos e vida noturna, e manter lugares tradicionais lindos, como templos, palácios e museus, que representam a tradição cultural e arquitetônica do país. Apesar de Bangkok não ter um sistema de transporte nos moldes de Paris ou Tóquio, é possível chegar a vários pontos turísticos com transporte público, sim, o que facilita bastante a vida do turista. E a lista de atrações, acredite, é grande. É bem provável que, uma vez lá, você se arrependa de não ter programado uns dias a mais na cidade.

Então vamos para o primeiro ponto: quanto tempo para Bangkok? Eu fiquei cinco noites, mas cheguei à noite na cidade e fui embora bem cedo, então foram quatro dias inteiros. Um deles eu usei para conhecer a antiga capital de Ayuthaya. Então no final foram três dias e, acredite, achei pouco. Você tem que considerar que Bangkok é muito quente e úmida (aliás, já foi considerada a capital mais quente do mundo); não raro a temperatura fica acima dos 30 mesmo à noite. O calor torna um suplício andar na rua por muito tempo e dificulta o turismo em si. Contratar tours em ônibus refrigerados pode ajudar, mas na hora de visitar um templo, por exemplo, não tem jeito: você vai ter que pisar no chão e enfrentar o calor. Tudo depende da época, claro, mas a impressão que eu tenho é que nunca fica muito fresco por lá. Assim, uma programação intensa para um dia pode não funcionar, ou pode resultar em muito cansaço ou até em queimaduras de sol.

Às 19h16 fazia 32 graus em Bangkok (aqui na grafia portuguesa). Mas tenho certeza que a sensação era de uma temperatura bem maior

Às 19h16 fazia 32 graus em Bangkok (aqui na grafia portuguesa). Mas tenho certeza que a sensação era de uma temperatura bem maior

Além disso, como afirmei acima, Bangkok tem várias atrações. Há alguns passeios nos arredores (como a viagem a Ayuthaya que eu mencionei) que certamente tomarão parte do tempo que você programar para a cidade. Por tudo isso, creio que menos de três dias só mesmo para os adeptos do fast tourism — para conhecer um pouco melhor a cidade, acho que é o mínimo.

Quanto ao local da hospedagem, considerando-se que eu fui a Bangkok uma única vez, acho difícil emitir opiniões bem fundamentadas. Vou falar sobre o lugar onde fiquei e o que eu pude perceber de alguns outros lugares. Mas leve em conta que é uma impressão superficial, e que você pode pesquisar mais a respeito para ter uma opinião mais completa.

Restaurante Ruen Urai, em Silom

Restaurante Ruen Urai, em Silom

Ficamos na região de Silom, que tem esse nome por causa da Th Silom, uma avenida que corta o bairro e é sua principal via. É uma região cheia de hoteis grandes, por causa dos executivos que ficam ali, mas também tem hoteis menores e próximos do que poderíamos chamar de hoteis boutique. Ficamos no Amber Boutique Silom, que fica numa ruela meio estranha; mas é como muitas em Bangkok, e não tivemos problema algum, mesmo voltando à noite. Os quartos são novos e arrumados, com espaço razoável; o atendimento não era nada extraordinário, mas educado, e o café da manhã bem simples. O fato é que, por cinco noites, pagamos cerca de 300 dólares, para duas pessoas, o que é bastante razoável. De todo modo, em Bangkok é possível achar bons lugares para ficar a preços excelentes, se comparados ao Brasil e a outros países do ocidente. Basta pesquisar.

Lâmpadas coloridas à venda na Th Silom

Lâmpadas coloridas à venda na Th Silom

O legal de Silom é que tem vários restaurantes e bares na região, então à noite é possível ficar por lá mesmo. O comércio de rua é bem animado, comprei algumas lembrancinhas nas feirinhas do bairro, mas acho que em qualquer área de Bangkok tem barraquinha na rua. Há uma linha do Skytrain que percorre metade da Th Silom, chegando até uma estação de barcos em poucas paradas, o que facilita bastante o deslocamento. É, porém, uma região com uma oferta de “diversão adulta” muito forte (talvez pela presença dos executivos), o que pode espantar algumas pessoas. Mas olha, qualquer cidade do sudeste asiático um pouco maior tem essa oferta, e muita gente viaja para lá para isso mesmo. Apesar das abordagens, não senti risco algum à segurança, e essas áreas são tão movimentadas de gente que é só seguir andando para ser imediatamente ignorado. De todo modo, a concentração da “temática sexual” se dá principalmente na área do Soi Patpong (onde, aliás, também tem uma feirinha ótima) entre os Soi 4 e 6 da Th Silom. Se não quiser ver, basta evitar essa área. Convém evitar também, claro, as ruelas mais escuras e com menos movimento.

Muvuca na Th Khao San

Muvuca na Th Khao San

Se você viu o filme A Praia e achou muito legal a cena do Leonardo di Caprio chegando em Bangkok, é bem provável que queira ficar na região da Th Khao San, em Banglamphu. Fui jantar um dia lá para conhecer o buxixo. Tem ares de “gringolândia”; é, de fato, o paraíso dos mochileiros. A Khao San, em si, é um caos de barraquinhas de camelô e de comida, mas há ruas próximas “menos intensas” (tranquilidade creio ser uma palavra inexistente ali). Pelo que li, apesar de ser muito procurada por mochileiros, já conta com pousadas e hoteis mais arrumadinhos, o que diversifica um pouco o público (vi, de fato, gente de toda idade lá). Não há metrô ou linha do Skytrain por perto, mas com uma caminhadinha chega-se a uma estação de barcos. Se você está viajando sozinho ou é jovem e está num grupo de amigos, acho uma boa opção.

Hotéis junto ao rio em Bangkok: no primeiro plano, à esquerda, o The Peninsula, ao fundo, o Hilton

Hotéis junto ao rio em Bangkok: no primeiro plano, à esquerda, o The Peninsula, ao fundo, o Hilton

Os hoteis que margeiam o rio, claro, são opções no extremo oposto da faixa de riqueza turística. Com vistas para o rio ou para a cidade e piscinas para espantar o calor, são certamente uma boa forma de se mimar (e de gastar dinheiro). Há hoteis com barcos próprios para uso dos hóspedes, mas eu olharia se há uma estação pública de barcos por perto, para facilitar o deslocamento e não ficar tão dependente do hotel — a linha de metrô passa longe e só há uma estação do Skytrain perto do rio (Saphan Taksin). Também acho que, a depender da região do rio onde fica o hotel, opções de restaurante no entorno serão poucas. Nada que um táxi não resolva.

Região da Siam Squarte com o Skytrain

Região da Siam Squarte com o Skytrain

A região ao redor da Siam Square, cheia de shoppings e lojas, é certamente um atrativo para quem não abre mão das comprinhas. Com o Skytrain passando bem no meio dela, deslocamento não é um problema. O único porém, na minha impressão, é que a oferta de restaurantes para comer à noite é meio fraca.

Você também pode encontrar hoteis na Th Sukhumvit. Essa importante via da cidade é bem longa e segue por vários quilômetros até o mar. Em um bom pedaço dela, há uma linha do Skytrain. Ainda assim, acho que o melhor é ficar o mais próximo possível da região da Siam Square, para não estar tão longe das atrações turísticas. Não passei por ela, na verdade, mas pelo que li, há grande afluência de executivos, semelhante à região de Silom.

Wat Arun

Wat Arun

Não é comum ver referências a hoteis do outro lado do rio (o lado oeste). De todo modo, é uma área com poucas atrações turísticas: visitamos ali apenas o Wat Arun.

Antes de falar sobre transporte e deslocamento na cidade, talvez seja interessante uma rápida explicação sobre os endereços em Bangkok. As avenidas principais são chamadas de thanon, daí a abreviação “Th” que você viu acima e certamente verá nos guias. A partir delas, saem os sois, que são, na maioria, as ruelas sem saída que eu mencionei aqui, mas há alguns maiores, que conectam duas avenidas. Os sois são numerados e normalmente têm uma sequência crescente/decrescente; além disso, é comum que sois ímpares fiquem de um lado da avenida, enquanto os pares fiquem do outro. O endereço do nosso hotel, por exemplo, era no Soi Silom 14, o que significa que ficava no Soi 14 saindo da Th Silom. Soi Sukhumvit 6 significa que o lugar fica no Soi 6 saindo da Th Sukhumvit. Se não tiver indicação do soi é porque fica na própria avenida. Claro que essa “organização” não é universal, mas dá para se virar e se localizar com ela na maioria dos lugares.

Plataforma de estação do Skytrain (BTS)

Plataforma de estação do Skytrain (BTS)

Como já mencionado acima, Bangkok conta com dois transportes urbanos em trilhos: o metrô e o Skytrain (também chamado de BTS). O metrô conta apenas com uma linha, mas é conveniente para ir até a estação de trem Hualamphong (que nós usamos para ir para Ayuthaya, por exemplo). Também se conecta com o Skytrain em dois pontos, mas os bilhetes são independentes. O BTS é semelhante a um metrô, só que usa aqueles trilhos elevados (daí o nome Skytrain). Tem duas linhas, e, para nós que ficamos em Silom, foi bastante conveniente: usamos para ir para a área da Siam Square, para ir para o mercado Chatuchak e também para fazer conexão com os barcos, na estação Saphan Taksin.

Uma das estações do metrô de Bangkok

Uma das estações do metrô de Bangkok

Para adquirir o “bilhete” do Skytrain (que é uma espécie de ficha de plástico, como as de cassinos, que você introduz nas roletas), basta ir até uma das máquinas que ficam nas estações, verificar o tarifário da estação para onde você quer ir (cujos nomes aparecem também em inglês) e pressionar, ao lado, o botão com o respectivo valor (veja imagem abaixo). Os valores variam — quanto mais estações você for percorrer, maior o preço. Daí basta introduzir as moedas correspondentes ao valor. Leve moedas; não são todas as estações em que é possível trocar dinheiro.

Máquina para aquisição de "bilhetes" do BTS (imagem obtida em www.thaivisit.org)

Máquina para aquisição de “bilhetes” do BTS (imagem obtida em http://www.thaivisit.org)

Os barcos que cruzam o rio Chao Phraya são, como os vaporetos de Veneza, um meio de transporte para os moradores de Bangkok, mas servem perfeitamente aos turistas. O barco é a melhor forma de chegar à região onde ficam os principais templos de Bangkok (conhecida como Ko Ratanakosin), como o Wat Phra Kaew e o Wat Pho, em Banglamphu (onde fica a Th Khao San e vários outros templos), ao Wat Arun, do outro lado do rio, e à região de Chinatown. Usamos muito a parada Tha Sathon (também chamada de Central Pier), devido à sua proximidade com a estação Saphan Taksin do BTS, mas, para voltar, pegamos o barco em diferentes paradas, sem problemas.

Barco de bandeira laranja deixa o Central Pier

Barco de bandeira laranja deixa o Central Pier

Os barcos são identificados por bandeiras coloridas, mas acho que os mais indicados para os turistas são os sem bandeira (que param em todas as estações) ou os de bandeiras laranja ou verde, que param em Tha Chang (para ir para os templos centrais) e em Rachawongse (para Chinatown) — todas param no Central Pier também. Para maiores informações, consulte o sítio da empresa Chao Phraya Express Boat.

Uma das paradas (N6 - Monumental Bridge) do barco

Uma das paradas (N6 – Memorial Bridge) do barco

O único alerta que tenho a fazer a respeito dos barcos é que no Central Pier também saem barcos turísticos, operados pela mesma empresa, e que param também nos píeres mais usados pelos turistas. A questão é que o passe (válido para um dia inteiro) custa em torno de 150 Bahts, e os barcos saem de meia em meia hora, começando às 9h30. Os serviços dos barcos “comuns” começam por volta das 6h e parecem mais frequentes. Neles pagávamos apenas 15 Bahts pelas viagens (cerca de 1 real). Não há uma distinção muito clara e há funcionários abordando os turistas para vender o bilhete do barco turístico. Minha dica é: vá na fila onde estão os locais. Parece-me que, no Central Pier, ela fica à esquerda, enquanto os barcos turísticos saem da direita. Outra dica é que os bilhetes dos barcos “comuns” não são adquiridos do lado de fora: depois de embarcar, uma tia com uma caixinha de moedas logo aparecerá para cobrar. Leve trocado. E guarde o papelzinho minúsculo até você desembarcar, caso ela não se lembre que já cobrou de você.

Monge e o táxi rosa choque

Monge e o táxi rosa choque

Os táxis em Bangkok padecem do mesmo mal de várias outras cidades grandes: motoristas que não querem ligar o taxímetro e querem fazer corridas com preço fixo (que os turistas nunca sabem se é adequado), ou simplesmente se recusam a te levar em determinados locais. Tentamos pegar um táxi nos arredores do Wat Pho para irmos para os palácios da região de Dusit e, depois de entrarmos em uns cinco que recusaram a corrida, desistimos. Se você estiver num momento de cansaço extremo e não estiver nem aí para o taxímetro, lembre-se sempre de combinar bem combinado o preço antes. Nós preferíamos descer do táxi e procurar outro, e conseguimos fazer todas as viagens com o taxímetro. É bastante válido para deslocamento entre bairros mais distantes onde não há transporte público e à noite, quando todos estamos mais cansados e não é bom ficar dando pinta à pé na rua. É necessário lembrar, porém, que o trânsito de Bangkok é bem ruim; portanto, é melhor evitar táxis nos horários de pico. Os táxis de Bangkok são facilmente identificáveis, pois todos têm cores berrantes: uns são rosa choque, outros laranja sukita, outros verde bandeira…

O tuk-tuk (só que esse aqui foi fotografado em Chiang Mai)

Quando estiver andando na rua, você certamente será abordado pelos famosos tuk-tuks, aquelas motos com três rodas e alguns assentos acoplados. Pegamos tuk-tuks em outros lugares da Tailândia, como Chiang Mai e Ayuthaya, mas evitamos em Bangkok. De acordo com o guia que eu usei, eles costumam cobrar preços pouco razoáveis se comparados com os táxis (que costumam ter ar condicionado) e adoram levar os turistas para lojinhas de amigos sem ninguém pedir. Mas é aquela típica experiência tailandesa pela qual todo mundo quer passar pelo menos uma vez. Se você não o tiver feito em outro lugar e fizer questão, use para pequenos deslocamentos, sempre combinando o preço antes. De acordo com o guia, para deslocamentos curtos, até 50B é um valor adequado.

Bangkok tem dois aeroportos: o Suvarnabhumi e o Don Muang. Esse último é o mais antigo e hoje é mais utilizado para voos domésticos. Portanto, sua entrada ou saída internacional da Tailândia certamente ocorrerá pelo Suvarnabhumi. Não há transporte público entre os dois aeroportos; por isso, conexões que envolvam a troca de aeroporto devem ser pensadas com bastante cuidado. Se você for pegar um voo interno na Tailândia logo depois de chegar no Suvarnabhumi, convém verificar se ele sairá de lá mesmo ou do outro aeroporto. Na dúvida sobre o tempo de conexão, considere um pernoite na cidade.

Templo dentro do aeroporto Suvarnabhumi

Templo dentro do aeroporto Suvarnabhumi

É possível ir do Suvarnabhumi até a cidade de trem e de ônibus. A estação final do trem é em Phaya Thai, onde é possível chegar na estação do mesmo nome do BTS. Os ônibus expressos do aeroporto levam para diferentes lugares, sendo que o AE1 vai até a estação de trem Hualamphon (conectada com o metrô, como já dito acima) e o AE2 vai até a Th Khao San. Como chegamos à noite, ficamos com receio de nos aventurar no trem + BTS e preferimos pegar um táxi. Ignore qualquer pessoa oferecendo táxis dentro do aeroporto; basta seguir as placas e, assim que você sair do aeroporto, verá os carros de cores berrantes. Um funcionário que fala inglês vê qual é seu destino e o encaminha a um dos taxistas, explicando a ele o endereço. É preciso destacar que você paga uma taxa extra de 50B para corridas saindo do aeroporto, e também paga os pedágios que tiver pelo caminho — observe em quantos o motorista pára e tente ver quanto custa cada um (algo em torno de 25 a 45B). Não me lembro quanto pagamos por nossa corrida; de acordo com o Lonely Planet, deve oscilar entre 200 e 300B, dependendo do destino.

Baía de Halong

Baía de Halong

Baía de Halong

Um dos passeios mais procurados por quem vai ao Vietnã é para conhecer a linda Baía de Halong. No norte do país, são mais de 2.000 ilhas, a maioria pequenas formações rochosas de calcário, que emergem do mar cor de esmeralda formando uma paisagem única. Não por acaso, desde 1994, a área é considerada pela UNESCO Patrimônio da Humanidade, como paisagem natural.

Halong, em vietnamita, significa algo como “lugar onde o dragão desceu ao mar”, e é assim que a lenda explica as formações rochosas: o rabo do dragão cavou vales que, depois, quando ele mergulhou no mar, foram preenchidos com água.

Baía de Halong

Baía de Halong

O passeio até lá é, de fato, um dos pontos altos para quem vai ao Vietnã. Contudo, creio que não viajamos na melhor época do ano para conhecê-la. Fomos no comecinho de março e, à exceção de Saigon, bem ao sul do país, o clima no Vietnã estava meio chuvoso, com temperaturas não muito altas. Por um lado foi bom, pois deu um certo refresco do calor que pegamos na Tailândia e no Camboja, e não atrapalhou a maior parte dos passeios que fizemos. Entretanto, acho que prejudicou um pouco o passeio na Baía de Halong. A névoa, é verdade, deu um certo ar misterioso e etéreo à baía e às ilhas e, mesmo com ela, achei o lugar incrível, mágico. Mas aquelas fotos dos guias de viagem, com céu azul e mar verdíssimo, não deu para tirar, como você pode ver pelas imagens que acompanham o texto.

Detalhe da paisagem na baía. O verde mais intenso eu só consegui usando um filtro para avivar as cores.

Detalhe da paisagem na baía. O verde mais intenso eu só consegui usando um filtro para avivar as cores.

Por isso, ao menos no quesito clima, parece-me um pouco complicado casar a viagem da Tailândia e do Camboja com o Vietnã, como fiz. Fevereiro e março, os meses em que viajei, já são razoavelmente quentes nos dois primeiros países, mas, no Vietnã, ainda trazem um pouco de frio e de chuva. Mais para frente, o calor fica ainda pior na Tailândia e no Camboja, por isso preferi ir nesses meses. De acordo com o guia, junho e julho são alta temporada para visitar a baía, com muitos vietnamitas fazendo turismo. Talvez abril, maio, sejam épocas com maior probabilidade de pegar tempo bom sem a muvuca. No segundo semestre, ao menos até novembro, as tempestades tropicais são um risco para todo o Sudeste Asiático.

Caverna Động Thiên Cun, uma das atrações da baía

Caverna Động Thiên Cun, uma das atrações da baía

Muitas empresas em Hanói oferecem passeios até a Baía de Halong, e mesmo seu hotel pode indicar alguma. Como eu gosto de sair do Brasil com a viagem 90% resolvida, pois sempre fico com medo de chegar no destino e não achar nada disponível, ou só achar alguma empresa fuleira que vai me fazer passar raiva, preferi fazer a pesquisa e contratar o passeio já daqui. Após pesquisar no guia e no Tripadvisor, escolhi a Handspan. Quando mandei uma mensagem a eles, me ofereceram duas possibilidades: um tour em um grupo com 25 a 30 pessoas, ou um tour privado. O problema é que o tour em grupo seria com outra operadora, e não com a própria Handspan. Acabamos escolhendo o tour privado, pelo qual  pagamos 284 dólares (preço de março de 2013) para duas pessoas (ou seja, 142 dólares por pessoa). Não é, claro, o passeio mais barato que você vai encontrar, mas para um tour privado, também não é nenhuma facada (o preço do passeio em grupo era de 98 dólares para os dois).

Minha opinião: não me incomodo de fazer esses passeios em grupo, é até uma oportunidade de conhecer gente de outros lugares e conversar um pouco. Mas 30 pessoas eu acho muito. Imaginei que seria aquela disputa no barco para sentar, pelo melhor lugar para tirar fotos… Além disso, como gostei dos comentários a respeito da Handspan no Tripadvisor, preferi ficar com o tour privado operado por eles a arriscar o grupo com outra operadora.

Outro ponto que merece menção é que a viagem de Hanói até a Baía de Halong dura em torno de 4 horas. Ou seja: foram 4 horas para ir até lá, mais ou menos umas 3 horas de passeio, e mais 4 horas para voltar, totalizando 11, 12 horas de bate-e-volta. Achei muito cansativo — muito tempo na estrada, pouco tempo no destino em si. Confesso que escolhi o passeio de um dia porque fiquei com preguiça de passar uma noite lá e ter que fazer check out no hotel em Hanói para depois voltar. Mas, depois que fui, acho que dormir na baía é a melhor opção. Claro, pode ser difícil para quem tem problemas em passar muito tempo em um barco, já que o pernoite é nele.  Em todo caso, as águas da Baía de Halong não são muito profundas, de modo que não há porque temer muita agitação ou um naufrágio. Remedinhos podem resolver o problema do enjoo.

O junco que faz os passeios com pernoite da Handspan. A imagem eu peguei do Tripadvisor

O junco que faz os passeios com pernoite da Handspan. A imagem eu peguei do Tripadvisor

Além do cansaço, há outros motivos para escolher o passeio com pernoite. No caso da Handspan, os passeios com pernoite (há opções para uma ou duas noites) são feitos em uma embarcação estilo junco, aqueles barcos chineses antigos, o que dá um charme a mais ao tour. No nosso caso, o passeio de um dia era feito em um barco comum, com aquele cheirinho de óleo normal em embarcações modernas. Além disso, o pernoite permite atividades diferentes, como visitas a alguma das vilas flutuantes que pontuam a baía (só passamos por algumas delas, sem descer), banhos de mar (bem, aí depende também da época do ano, como eu expliquei acima) e passeios de caiaque. Por outro lado, acho que, no caso do passeio com pernoite, a Handspan oferece só tours em grupos, mas convém perguntar.

Finalmente, para te convencer de vez a passar uma noite lá, pelo que eu percebi, nosso hotel em Hanói permitia que os hóspedes deixassem sua bagagem guardada enquanto faziam o passeio para Halong, ou seja: só precisava levar uma muda de roupa e uma nécessaire. Não sei se todos os hotéis em Hanói oferecem essa opção, mas não custa nada perguntar, principalmente se você vai voltar depois e pernoitar mais uma ou duas noites lá. Pode até ser um fator na hora de escolher o hotel em Hanói.

Ar "misterioso" na Baía de Halong

Ar “misterioso” na Baía de Halong

Quanto ao nosso passeio de um dia, começou cedo, claro, mas não foi preciso acordar de madrugada. A saída acabou atrasando porque esquecemos de avisá-los em que hotel estávamos (que burrada)! Mas o pessoal do nosso hotel em Hanói percebeu que já estávamos esperando há algum tempo, telefonaram para a Handspan e eles logo apareceram. Apesar de termos contratado o tour privado, até imaginei que fôssemos num ônibus ou numa van com outras pessoas. Não sei se por causa do atraso ou se por causa do tour escolhido mesmo, fomos num carro de passeio, bastante confortável. Além do motorista, nosso guia, super simpático, que ia nos explicando coisas sobre o Vietnã.

O caminho é um pouco monótono, sem nenhuma paisagem de cair o queixo. O que mais me chamou a atenção foi a sucessão de plantações de arroz e a ocupação praticamente contínua. No Brasil, numa viagem mais longa como essa, é quase certo passar por trechos com quase nenhuma ocupação humana. Lá, o tempo todo vê-se conjuntos de casas no meio das plantações, no mesmo estilo das cidades: estreitas, geminadas e com alguns andares, nada no estilo “vila do interior” daqui. Segundo o guia, as pessoas moram próximas às áreas que elas cultivam, daí a alta concentração. Há que se lembrar também que o Vietnã tem uma população de mais de 90 milhões de pessoas, então a ocupação da terra tem que ser mais densa mesmo.

Saindo do porto de Halong

Saindo do porto de Halong

Depois da longa viagem, chega-se a um porto da cidade de Halong, só para barcos de passeio. Não se assuste, o lugar é meio feioso e caótico mesmo, mas com o guia e com a operadora contratada, não há porque se preocupar. Logo se entra no barco e, em poucos minutos, o caos fica para trás e a beleza da baía começa a aparecer. Achei um pouco estranho o barco só para duas pessoas (além do guia e da tripulação, claro), mas, afinal, era um tour privado.

Luzes coloridas na caverna Động Thiên Cun

Luzes coloridas na caverna Động Thiên Cun

Caverna Hang Dau Go

Caverna Hang Dau Go

Pouco tempo depois, paramos numa ilha para visitar duas cavernas. A primeira, a  Động Thiên Cun, foi “adornada” com luzes coloridas meio bregas, bem como com pequenos trechos de água corrente artificial. Ainda assim, há formações rochosas bem interessantes que valem a visita. Ao lado, parte de um mesmo sistema, fica a Hang Dau Go, com menos iluminação artificial (e sem as cores berrantes). Nela, há algumas “pichações” antigas nas pedras, em chinês e em francês. Há outras cavernas na baía, mas acho que essas são as mais visitadas. De todo modo, quando paramos lá, não havia quase ninguém. Nosso guia explicou que eles organizam o tour para evitar a maior parte dos grupos. Ponto para a Handspan!

Entrada estilo casquinha de siri no almoço

Entrada estilo casquinha de siri no almoço

Molhinhos que acompanham as comidas vietnamitas

Molhinhos que acompanham as comidas vietnamitas

Depois das cavernas, voltamos para o barco e seguimos o passeio. Logo foi servido o almoço, composto basicamente de peixes e frutos do mar (avise antes se você não gostar ou for alérgico). Eu achei uma delícia, não esperava um almoço tão bom num passeio de barco. Os molhinhos vietnamitas que acompanham a refeição dão um toque especial; nosso guia explicava qual deles era indicado para cada comida. Para acompanhar, nos ofereceram vinho chileno (!!!) e um vietnamita, branco. Escolhemos, claro, o vietnamita, para conhecer. Não achei nada demais, mas também não estava ruim. Depois, em Hue, experimentei um vinho vietnamita tinto, mas preferi o branco que nos serviram neste passeio. É bom ressaltar, porém, que as bebidas não estão incluídas no preço e são cobradas no final.

Uma das "vilas" flutuantes na baía

Uma das “vilas” flutuantes na baía

Depois do almoço subimos para o deck. O tempo estava frio, com uma chuva fina às vezes, mas em alguns lugares foi possível admirar a beleza das formações rochosas e o mar de cor verde intensa. A maior parte das ilhas não é habitada; contudo, há algumas “vilas” artificiais flutuantes, cujos ocupantes vivem da pesca (e das visitas dos turistas). Não descemos em nenhuma delas, mas passamos por algumas durante o passeio. Depois de uma pequena volta na baía, retornamos ao porto. Ainda nos aguardava a longa viagem de volta. Paramos numa loja no caminho (esses passeios sempre param em algum lugar para compras), com produtos vietnamitas, mas até que não senti muita pressão para comprar, não. Como estávamos cansados, nos limitamos a ir ao banheiro e comprar alguma coisa para comer (tinha umas balas de coco ótimas!)

Baía de Halong

Baía de Halong

Independentemente do clima, achei um passeio imperdível; tirando o cansaço do bate-e-volta, gostei muito. De todo modo, é bom perguntar para a operadora se, em caso de tempo muito ruim, é possível cancelar o passeio e se há reembolso, caso o clima não melhore nos dias em que você estiver por lá.

Réveillon na Praia do Rosa

Praia do Rosa vista de cima

Ano passado relatei minha experiência de réveillon em Trancoso. Esse ano pretendo falar sobre o réveillon que passei na Praia do Rosa, em Santa Catarina, na virada de 2010 para 2011.

Igreja antiga em Garopaba

A Praia da Rosa fica oficialmente no município de Imbituba, no caminho para Garopaba, ao sul da Ilha de Santa Catarina (a “parte turística” da capital Florianópolis). A cidade de Garopaba sempre foi bastante associada ao surf, já que foi lá que surgiu a marca Mormaii — embora, como mostra a foto acima, a cidade seja bem antiga. A Praia do Rosa, também bastante procurada por surfistas, fica alguns quilômetros distante do centro de Garopaba e conta com uma estrutura própria.

É verdade que falar em “estrutura” talvez seja um exagero, já que boa parte das ruas não tem qualquer tipo de pavimentação e a vila tem um ar bem rústico. Mas acho que isso faz parte do charme procurado por quem vai para lá, e não significa que o lugar não tenha nada a oferecer a quem procure algo mais confortável ou requintado. Comi em excelentes restaurantes — há opções de comida tailandesa, japonesa e italiana, por exemplo. Além disso, há pousadas charmosas (e caras), com toda a infraestrutura de um hotel bem equipado.

Canto esquerdo da Praia do Rosa (Rosa Norte)

De qualquer forma, em comparação com o destino de que eu falei ano passado (Trancoso), acho que a Praia do Rosa (ou simplesmente Rosa) é menos jet-set e os preços ainda são bem mais em conta. Embora num volume largamente inferior que a capital Florianópolis, o número de pessoas lá na época do réveillon era considerável, de modo que quem quer agito e badalação também não vai se decepcionar.

Mas vamos do começo. Como faz para chegar lá? Pode-se ir de ônibus a partir da rodoviária de Florianópolis, com destino a Garopaba, mas ele não para na Praia do Rosa. É possível parar na SC-434 (veja mapa acima), no caminho para Garopaba, mas de lá até o “centro” da Praia do Rosa em si há ainda uma distância considerável. Algumas pessoas do nosso grupo conversaram com o dono da nossa pousada e ele gentilmente se ofereceu para buscá-las nesse local; é possível que você consiga combinar alguma coisa semelhante no lugar em que for ficar.

Eu preferi alugar um carro em Florianópolis e ir dirigindo até lá. O caminho é pela perigosa BR-101 (veja mapa acima), que percorre toda a Região Sul, mas o trecho de Floripa até lá é bem tranquilo e está quase todo duplicado. Na ida gastamos menos de 1 hora, mas a volta foi mais complicada, pois pegamos muita gente voltando para casa nas estradas, e os trechos não-duplicados acabaram engarrafando. Por isso, se tiver voo marcado em Florianópolis na volta, programe-se para sair com bastante antecedência do Rosa.

Praia do Rosa

A praia em si é linda, como é possível ver pelas fotos que eu coloquei aqui, mas também é bem perigosa. Passamos pela desagradável experiência de ver uma mulher morrer afogada a poucos metros de onde estávamos. Há salva-vidas pela praia, mas nem sempre é possível socorrer quem está afogando a tempo; além do mais, eles tinham poucos equipamentos médicos e o socorro tem que vir de helicóptero. Por isso, todo cuidado é pouco: não nade nas áreas indicadas como perigosas e não se arrisque muito até uma parte mais funda. A água, é claro, é fria como em Florianópolis, mas com sol não fez muita diferença.

Morros cercando a Praia do Rosa

O grande desafio é que, assim como em Trancoso, há um grande desnível entre a praia e a vila. Não chega a ser como o paredão de Trancoso, mas a área ao redor é basicamente de morros, de modo que boa parte das pousadas fica dependurada nessa região. Há algumas poucas pousadas mais próximas da praia, mas a maioria fica numa parte mais alta mesmo. A vila fica numa área mais plana, mas também mais alta que a praia. Se você tiver carro, pode descer até perto da praia, numa rua que segue a partir da vila, mas nos dias de maior movimento fica difícil estacionar. O melhor é fazer mesmo como a maior parte das pessoas, e descer por alguma das trilhas existentes ou pela rua que parte da vila.

Deck do meio da praia

Você provavelmente chegará na praia a partir do meio dela, onde há um deck recém-construído, com algumas lojas e locais para comer, e uma pequena lagoa. Nessa parte não há muita gente; as pessoas se concentram principalmente nos “cantos”. Olhando para a praia, o “canto esquerdo” (Rosa Norte) é o mais “descolado”, reunindo o pessoal mais jovem, mas tem uma estrutura ruim, com alguns poucos quiosques vendendo o básico e com poucas cadeiras para alugar. Já o “canto direito” (Canto Sul) tem alguns bares mais estabelecidos — como o Parador Swell — e reúne mais famílias.

Tenda do réveillon Virada Mágica no hotel Fazenda do Rosa

No dia do réveillon propriamente dito, havia algumas festas anunciadas, mas parece que todo mundo foi mesmo para a festa do hotel Fazenda do Rosa, bem perto da praia. A festa chama-se “Virada Mágica”. Preferimos ver os fogos da pousada onde estávamos, onde os proprietários ofereceram aos hóspedes algumas comidinhas e espumante. Além disso, a vista lá de cima dos fogos e da praia é espetacular… Depois descemos para a praia, que estava bem cheia — muita gente da própria festa acabou saindo e indo para lá, já que era possível ouvir a música da praia também.

Experimentamos alguns lugares lá para comer e gostamos da maioria. Há algumas opções na própria vila, enquanto outras ficam em pousadas. Vou listar aqui o que eu conheci (e gostei) e algumas outras dicas que recebemos:

Prato do Tigre Asiático

1) Tigre Asiático: na Rua Calçada (a rua mais movimentada da vila), tem um ambiente bem bonito, com decoração no estilo tailandês. Os pratos não são tão apimentados e estavam bem feitos. É bem badalado e costuma ter espera.

2) Sapore di Pasta: fica dentro da pousada Morada dos Bougainvilles, no Caminho do Rei. O lugar é bem charmoso e uma boa pedida para um jantar romântico. O spaghetti negro com lascas de salmão e molho de laranja estava uma delícia! O forte do cardápio, como dá para ver pelo nome, são as massas.

3) Refúgio do Pescador: dentro da pousada Hospedaria das Brisas, também no Caminho do Rei, o forte aqui são os peixes e frutos do mar. Não gostei muito do atum que eu pedi — passado demais para o meu gosto — mas os outros pratos da mesa estavam bem feitos.

4) Dragon Sushi: fica na entrada da vila do Rosa, próximo ao posto policial. Nesse não fomos, mas recebemos muitas recomendações na pousada em que ficamos.

5) Pizzaria Margherita: próxima ao centrinho, na esquina entre a estrada que leva à praia e o Caminho do Rei. As pizzas são ótimas, só não gostamos do vinho branco quente! Comemos lá no dia 31 de dezembro, então pode ser uma boa pedida se você está procurando um lugar para comer antes do réveillon.

6) Lola: também na Rua Calçada, no centro, é uma mistura de bar e restaurante. Os pratos estavam bons, o problema foi a demora: o atendimento deixou a desejar. Quase sempre tem música ao vivo.

Já no quesito diversão noturna, o lugar mais animado era o bar Beleza Pura, na Estrada da Praia, perto da esquina com a Rua Calçada. Se você chegar cedo nem vai precisar pagar para entrar. Achamos as bandas que tocavam música ao vivo mais ou menos, mas também tem DJ tocando. Outro lugar que costumava encher era o Pico da Tribo, que fica um pouco escondido na parte de dentro da vila — melhor pedir indicações de como chegar. Costuma encher tarde e o cardápio musical é variado, depende do dia. Há ainda o Mar del Rosa, com programação mais voltada para a música eletrônica.

Para encerrar, uma boa fonte para ficar por dentro da Praia do Rosa e ver o que está rolando é o Guia do Rei.

Como ir do Brasil ao Marrocos e se deslocar dentro do país

Vista aérea chegando em Marrakech

Ao contrário do que fazia parecer a novela O Clone, não há voos diretos entre o Brasil e o Marrocos. Assim, a melhor forma de chegar ao país é fazer conexão em alguma cidade da Europa.

(Atualização em 03 de fevereiro de 2015: desde dezembro de 2013, a Royal Air Maroc passou a fazer voos entre São Paulo e Casablanca, mas as frequências ainda não são diárias).

Eu escolhi ir pela TAP, com conexão em Lisboa. Antes de prosseguir, quero fazer um parênteses. Ao contrário de muita gente, valorizo bastante os voos da TAP para o Brasil. Em primeiro lugar porque gosto muito de Lisboa e adoro fazer uma paradinha lá. Além disso, morando em Brasília, acho muito civilizado voltar de uma viagem longa dessas e chegar diretamente onde eu moro, sem ter que passar, por exemplo, pelo caos de Guarulhos. Tenho amigos que já passaram por problemas, mas, para mim, à exceção de uma mala extraviada que apareceu dois dias depois, nunca tive maiores perrengues, até o episódio da volta do Marrocos.

Os voos entre Lisboa e o Marrocos são operados tanto pela TAP como pela Royal Air Maroc (RAM), a companhia aérea do país. Na ida fomos de TAP mesmo, até Marrakech, enquanto na volta optamos por comprar um voo da RAM, já que teríamos que sair de Fez, fazendo uma conexão em Casablanca antes de voltar para Lisboa.

Na ida, foi tudo tranquilo, a conexão em Lisboa foi um pouco longa, mas o voo para Marrakech saiu na hora e foi tranquilo. Quando já estávamos no Marrocos, no meio da viagem, recebi um e-mail da minha agente de viagens dizendo que o voo da RAM Casablanca-Lisboa havia sido cancelado e que havíamos sido realocados num voo no dia seguinte. Embora o trecho Fez-Casablanca tivesse sido mantido, não havia nenhuma menção a uma acomodação em Casablanca oferecida pela companhia. Por sorte, minha amiga tinha créditos do Skype e conseguimos ligar para o Brasil para falar com a agente. Mesmo assim, só conseguimos remarcar voos em dias diferentes. Assim, cada um de nós passou por um tipo de problema.

No caso da minha amiga, a conexão em Casablanca era curta e, como o voo de Fez até lá atrasou, ela acabou perdendo o avião para Lisboa. A TAP não tem balcão próprio no aeroporto de Casablanca — eles só montam os guichês na hora do check in. Assim, ela ficou sem saber se haveria outro voo da TAP no mesmo dia. Como na RAM eles disseram que não poderiam fazer nada, ela acabou comprando outro voo deles que saía no mesmo dia. Ainda está pensando se vale à pena entrar na Justiça para cobrar por essa passagem “extra” e pelos danos morais. Houve ainda outros problemas: como ela perdeu a conexão, teve que praticamente caçar a mala dela no aeroporto de Casablanca; ninguém sabia dizer onde ela estava. Por sorte, um funcionário do aeroporto a ajudou e ela encontrou a mala. Além disso, fizeram a imigração dela em Fez (ou seja, carimbaram a saída dela do país já naquela cidade), de modo que, para voltar para a área de check in das companhias no aerporto de Casablanca, teve que passar por uma via crúcis na imigração — que acabou “anulando” o carimbo de saída de Fez.

No meu caso, o novo voo Casablanca-Lisboa em que fui colocado era no mesmo dia do anterior da RAM que havia sido cancelado, só que bem mais tarde. Resultado: passei umas 10 horas no aeroporto. Como alguns dias antes já havia conhecido Casablanca, fiquei com preguiça de voltar à cidade (que fica bem distante do aeroporto) para fazer turismo durante essa longa conexão; tampouco achei um guarda-volumes para deixar minhas coisas. Por isso, preferi ficar no aeroporto mesmo. Só que, quando já estava aguardando no portão de embarque, novo cancelamento: o avião da TAP que faria o voo estava com problemas técnicos e eles não conseguiram consertar. Tive que dormir mais uma noite em Casablanca e só embarquei no dia seguinte, por volta das 14h30.

O que eu e minha companheira de viagem aprendemos depois desses problemas:

1) ir para o Marrocos fazendo escala em Lisboa talvez não seja a melhor opção. Durante minha longa espera no aerpoorto de Casablanca, vi que há vários voos via Paris e via Madri e, assim, caso haja cancelamento do seu voo, deve ser mais fácil remarcá-lo. Numa pesquisa rápida no site da TAP, vi que, para Marrakech, não há voos às terças, quartas e sábados. Para Casablanca os voos parecem ser, na maior parte do tempo, diários; porém, ao menos na pesquisa que eu fiz, há apenas um voo por dia, e os horários variam muito de um dia para outro (o que dificulta ainda mais a remarcação);

Jatinho da Portugalia. Imagem obtida pelo Google

2) os voos da TAP de/para o Marrocos são operados, na verdade, pela Portugalia. Quem já viajou nela sabe que os aviões são menores e mais antigos. Pelo menos eram jatinhos, e não o bimotor que peguei uma vez para ir para Bilbao. De qualquer forma, o risco de o avião ter problemas de manutenção e não poder levantar voo (como aconteceu comigo) parece-me maior, pois, no caso dos aviões da Boeing ou da Airbus, deve haver mais técnicos capacitados para o conserto;

3) tendo em vista o cancelamento do voo no meio da viagem e a pouca colaboração oferecida, não acho que viajar com a RAM seja uma boa ideia. É bom frisar que a RAM não faz parte da Star Alliance ou de outro desses programas maiores de milhagem. Há uma parceria com a TAP apenas para bagagem e emissão de bilhetes; ainda assim, quando saímos de Fez, por exemplo, eles não emitiram o cartão de embarque até Lisboa, apenas até Casablanca, embora a bagagem tenha sido etiquetada até Portugal. O cartão de embarque Casablanca-Lisboa eu tive que pegar durante a conexão;

4) a TAP não possui balcão próprio no aeroporto de Casablanca (nem no de Marrakech). Os problemas são resolvidos por uma empresa terceirizada, que, claro, tira o corpo fora de qualquer responsabilidade (foi o que aconteceu no meu caso, no segundo cancelamento). Por isso acho, mais uma vez, interessantes os voos via Madri e Paris, já que Iberia e Air France possuem balcões no aeroporto de Casablanca — assim, fica bem mais fácil remarcar um voo caso sua conexão atrase, como no caso da minha amiga;

5) se você vai fazer conexão interna antes de pegar o voo para fora do Marrocos, não deixe, em hipótese alguma, carimbarem seu passaporte com a saída na primeira cidade em que você embarcar. Alertado pela minha amiga, disse em Fez que ia até Casablanca e ficaria ainda um tempo lá antes de sair do país e, assim, evitei o carimbo. O negócio é bagunçado mesmo, pois o voo que eu peguei até Casablanca não sairia do país depois, era um voo interno, mas, ainda assim, você tem que passar pela fila da imigração e se explicar.

A propósito, na mesma hora em que eu estava embarcando em Fez para Casablanca, havia um voo da Air France indo direto para Paris — talvez seja esse o motivo de me obrigarem a passar pela imigração, já que não há uma divisão dentro do aeroporto de Fez para voos internos e internacionais. Por isso, se o final da sua viagem for lá, pode ser uma boa procurar um voo via Paris na ida também.

Estação de trem de Rabat

Assim, embora exista a possibilidade de se deslocar internamente por avião, recomendo fazer essas viagens de trem. Fizemos os deslocamentos entre Marrakech e Casablanca e desta cidade para Fez de trem, e não tenho nenhuma reclamação. Também fizemos viagens bate-e-volta de trem (caso de Rabat e Meknès) e foi tudo tranquilo: é até possível comprar bilhetes ida e volta (aller-retour). Tirando a chatice dos rapazes que te abordam no trem para Fez (leia a respeito aqui), não tenho do que reclamar a respeito dessas viagens. Os trens que pegamos eram novos e foram sempre bastante pontuais: numa viagem bate-e-volta, perdemos um trem porque chegamos cinco minutos atrasados na estação. Além disso, os trens chegam às principais cidades do pais: Marrakech, Casablanca, Fez, Tanger, Rabat e Meknès são todas servidas pelos trilhos. Acho que dos destinos mais turísticos, só Essaouira, Tetouan e Chefchaouen não têm estações de trem e, por isso, devem ser visitadas de ônibus.

Estação de trem de Fez

Pelo Lonely Planet, li que a grande diferença entre a primeira e a segunda classe é que as cabines da primeira acomodam até seis pessoas, enquanto na segunda até oito — ou seja, uma bobeira. Até porque em alguns trens mesmo a segunda classe oferece assentos convencionais (com poltronas individuais) e não em cabines. Eu viajei sempre de segunda classe e não tive grandes aborrecimentos. Pode ser que no trem para Fez os “malas” não cheguem aos trens da primeira classe, não sei ao certo, mas algo me faz suspeitar de que eles devem ficar ainda mais gananciosos com os gringos da primeira classe.

Plataforma da estação de trem de Rabat

O site da companhia marroquina de trens (Office National des Chemins de Fer) permite a consulta dos horários de trens disponíveis, mas, infelizmente, não é possível comprar os bilhetes por lá. No geral, não achei difícil comprar in loco, nas estações, mas é sempre bom comprar com um ou dois dias de antecedência. No riad de Marrakech, eles mesmos providenciaram os bilhetes para nós, cobrando apenas pelo motorista que foi até a estação buscá-los. No caso das viagens bate-e-volta, compramos na hora sem problema algum.

Finalmente, tenho que destacar que as estações de Fez, de Marrakech e de Rabat foram reformadas e estão lindas, o que torna as viagens de trem muito mais agradáveis…

Réveillon em Trancoso

Sol nascendo na praia, Tostex

Foi-se o tempo em que Trancoso era uma praia longínqua no sul da Bahia visitada basicamente por hippies e gente alternativa, e a Elba Ramalho andava nua em pêlo pela praia. Não vou nem mencionar os séculos em que o local passou sendo uma pacata vila de pescadores. Hoje, helicópteros cruzam os céus trazendo e levando gente ao aeroporto de Porto Seguro, carregando em seu interior paulistanos endinheirados; restaurantes de vários sabores e origens (e contas salgadas) pipocam aqui e ali; lojinhas vendendo marcas como Osklen, Maria Bonita e Richard’s podem ser visitadas no Quadrado; e festas animadas pela música eletrônica e regadas com vodca importada acontecem na praia ou em clubes exclusivos.

Se você é daqueles que gosta do circuito jet-set, seus olhos provavelmente brilharam com a descrição do parágrafo anterior. Se você quer apenas descansar e curtir sombra e água fresca, provavelmente já riscou Trancoso do seu caderninho. Calma, há Trancoso para todos, basta saber onde e quando ir.

Minha única experiência em Trancoso foi em um réveillon (certo, eu dei uma passadinha lá quando viajei com a turma da escola no final do 2.° grau, mas isso não conta), por isso, é a respeito dessa época que eu vou escrever. De qualquer forma, pelo que eu ouvi falar, na semana do réveillon, os preços vão às alturas, as pousadas esgotam rápido, a vila e as praias ficam cheias. Se você não quiser nada disso, recomendo escolher outra época. A dona da pousada onde ficamos, uma argentina, me disse que no primeiro semestre, depois do verão, chove muito, mas, a partir do segundo semestre, à exceção dos turistas estrangeiros, que sempre aparecem, a cidade fica bem mais tranquila. Talvez viajar no final de novembro, começo de dezembro, seja uma boa escolha para quem quer mais sossego sem perder completamente a vibe do lugar, uma vez que o verão já estará batendo na porta, mas a maioria das pessoas ainda não terá começado a viajar. Acredito que entre o réveillon e o carnaval as coisas não sejam tão diferentes da descrição que eu fiz no primeiro parágrafo; de todo modo, como costuma acontecer em várias outras cidades de praia, pode ser que na semana seguinte depois do ano novo você já encontre opções mais em conta.

Para chegar em Trancoso, vem a primeira dificuldade. A vila não fica muito distante de Porto Seguro, onde há um aeroporto que recebe voos da TAM e da GOL, além de outros fretados. De lá, peguei um táxi até a estação das balsas, de onde cruza-se o Rio Buranhém até Arraial d’Ajuda. A estação não fica muito longe do aeroporto, de modo que a corrida não fica cara. A balsa também é baratinha, custava, quando eu fui, R$ 1,00 por pessoa. Ela também atravessa carros, mas nesse caso paga-se um pouco mais. De qualquer modo, na volta de Arraial d’Ajuda, a travessia de pessoas não é cobrada. Essa balsa funciona dia e noite, mas no verão ela é mais frequente.

Lembrando-me de que, quando fui com meus colegas de escola, a travessia também era feita pela balsa, fiquei pensando porque diabos não constroem logo uma ponte sobre o rio. Bem, a resposta parece ser um pouco complexa. Além do custo da obra, claro, acho que há pouca vontade de fazê-lo. Senti que há um certo temor de que Trancoso transforme-se em uma outra Porto Seguro — que, de fato, perdeu muito encanto com o turismo em massa — caso o acesso seja facilitado. Sinceramente, não acredito que o turismo em massa desqualifique um destino automaticamente — Paris e Nova Iorque estão aí, recebendo toneladas de turistas todo ano –, mas a preparação e a forma que ele tem para receber os turistas. Tudo isso parece-me, assim, um papo bem elitista; como ressaltei acima, quem pode vai de helicóptero até Trancoso e nem tem que pensar em travessias de balsa. Mas não há como negar-se que Trancoso não tem estrutura para receber muita gente, e assim vai mantendo-se a forma atual.

Feita a travessia de balsa, chega-se, como eu disse, a Arraial d’Ajuda, uma outra vila que também já foi bem alternativa mas hoje está bastante movimentada. Bem em frente as balsas, há vários ônibus que te levam até Trancoso, deixando você perto do Quadrado. Esses ônibus “fretados” pegam o caminho de terra, que é mais curto, mas é uma estrada de terra, enfim, cheia de solavancos. Há ônibus de linha que vão por uma estrada asfaltada — peguei um deles na volta –, mas o caminho é bem mais longo, uma volta danada. Escolha o que estiver mais fácil no momento, o importante é chegar. Sempre se pode, de qualquer forma, pegar um táxi até lá — aliás, já no aeroporto de Porto Seguro, é possível combinar transfers com taxistas, a preços bem salgados, diga-se de passagem. Ele cruza a balsa com você, faz o caminho até Trancoso e te deixa em frente à sua pousada, caso seja possível nela chegar de carro. Se a preguiça bater e dinheiro não for problema, é uma opção.

A vila fica em cima de uma falésia, de forma que praia e cidade ficam bem separados. Daí vem a primeira dúvida: ficar na praia ou na vila? Depende dos seus objetivos. Se você quiser curtir a cidade à noite, ir a um restaurante legal ou até mesmo a uma balada, é bem provável que venha uma preguiça de subir, à noite, a sinuosa estradinha de terra que conecta praia e cidade. Nesse caso, opte por ficar na vila. Se você quer só curtir praia e ficar numa pousada que tenha opção de comida à noite, ficar perto da praia será a escolha mais adequada. Há motoboys que te levam da vila para a praia e vice-versa, os quais se concentram próximo ao Quadrado. Em todo caso, convém verificar com sua pousada, caso ela fique perto da praia, se eles oferecem opção de transporte até a cidade à noite.

Quadrado com sua igrejinha

A vila em si foi construída em torno do famoso Quadrado, na verdade um grande descampado cercado de casinhas coloridas com uma igreja branquinha no fundo, já na beirada da falésia. Apesar de parecer bem básico (e é), o Quadrado tem seu charme. Os moradores foram expulsos das casas — provavelmente pela especulação imobiliária –, que foram reformadas e viraram lojinhas, restaurantes e até pousadas. Tudo bastante colorido. Ali e em algumas ruas ao redor carro não circula. Um dia, passeando pelo Quadrado à noite, havia umas cangas e almofadas espalhadas pelo chão, em volta de uma roda de samba. Foi um dos melhores programas da minha viagem, e não custou nada; portanto, compensa sempre dar uma volta lá à noite para ver se tem algo acontecendo. Da mesma forma, se você não conseguir encontrar (ou não quiser) nenhuma festa para passar o réveillon, é para lá que você tem que ir — fica bem cheio e há uma queima de fogos para comemorar a virada.

Aliás, o que fazer na virada é um capítulo à parte. Quando eu fui, na passagem de 2008 para 2009, havia uma grande festa sendo divulgada e que seria realizada numa pousada perto de Trancoso. Celebridades e endinheirados eram aguardados. O ingresso era vendido numa boate perto do Quadrado e custava uns R$ 300, com direito apenas ao ingresso no local. Apesar do preço, concordamos em pagar, já que não havia muitas outras opções. Numa noite em que estávamos na tal boate, fomos até a bilheteria para comprar a entrada. Para nossa surpresa, só era possível comprar se tivéssemos recebido um convite pessoal de um dos promotores da festa. E quem são eles? Ninguém dizia. Parece que quem já estava na cidade alguns dias antes recebeu o tal convite nas praias e nas festas com certa facilidade, mas depois que chegamos só conhecendo alguém mesmo. Depois de algumas tentativas e de saco cheio daquela segregação toda, preferimos deixar para lá e passamos o réveillon lá no Quadrado mesmo. Foi animado e bem mais barato, mas não há música e, depois de uma hora, praticamente todo mundo já se dispersou.

Praia dos Nativos, em frente ao Tostex

Nas praias há, claro, vários bares, e algumas pousadas, um pouco mais distantes, também colocam algumas cadeiras na praia para os hóspedes. O bar mais famoso é o Tostex, que fica bem abaixo da vila, na Praia dos Nativos, embora para se chegar até lá tenha que se descer pela tal estrada de terra que faz um zigue-zague até chegar na praia. O Tostex oferece mesas, cadeiras, espreguiçadeiras e almofadas sem cobrar por isso, mas tem que consumir (nos dias mais cheios há uma consumação mínima). O público é de gente bonita, jovem e paulistana, e a música é basicamente eletrônica. Apesar dos preços caros e da vibe um pouco Ibiza demais para o meu gosto, a música é legal e o lugar é, no geral, bem animado. As caipirinhas são ótimas: as minhas preferidas foram a de tangerina e pimenta rosa e a de carambola com manjeiricão, mas essas criações devem mudar de vez em quando.

Porta do banheiro feminino, Tostex

A maior parte dos restaurantes fica, de fato, no Quadrado ou nas proximidades. Não experimentei muitos, mas recomendo vivamente o Capim Santo (quem também tem uma pousada no local e conta com outra unidade em São Paulo). A comida é boa (embora, como quase tudo lá, cara) e o lugar é bem bonito, com atendimento bom. O Masala, na rua que dá acesso ao Quadrado, tem uma culinária estilo sudeste asiático e serve um pad thai bem gostoso. Nas opções mais em conta, recomendo o Portinha, bem no começo do Quadrado, um self service que na hora do almoço fica bem cheio e oferece opções variadas de comida, e a Créperie du Blé Noir, praticamente um quiosque numa pequena galeria no caminho para o Quadrado, que além dos crepes em si (bons) serve um bolo de chocolate que é uma coisa!

Para sair à noite, como eu já comentei, a maioria das opções ficam no Quadrado ou próximas a ele. No Pára-Raio, bem na entrada do Quadrado, a programação era basicamente de música eletrônica, mas não sei se ainda é uma boa opção. De qualquer maneira, várias festas aconteciam em outros lugares, entre eles o próprio Tostex citado acima, onde, durante o dia, o pessoal distribui os flyers com a programação noturna da cidade. Além disso, a Elba Ramalho tem uma casa na cidade e faz shows quase semanalmente na época do verão. Quando fui, eles aconteciam no São Brás, também no caminho que leva ao Quadrado, mas é só perguntar na pousada ou para quem trabalha lá que eles sabem onde ela estará se apresentando. Mesmo para quem não gosta muito do estilo dela, o show é bem animado e o público bem eclético, com locais se misturando a turistas brasileiros e gringos, querendo aprender a dançar forró.

Viajar barato e viajar caro

Muita gente acredita que é preciso ter muito dinheiro para viajar. Claro, sem dinheiro nenhum fica muito difícil fazê-lo (a não ser que alguém pague para você), mas você não precisa ser, necessariamente, rico. Tudo depende da viagem, do seu destino, do estilo que ela terá. Há viagens que consomem muito dinheiro e outras que consomem pouco. Já fiz algumas low budget, sobre as quais vou tentar falar um pouco.

Toda viagem envolve um deslocamento: você sai de onde mora e vai para outro lugar. O transporte pode ser feito por carro, por ônibus, por avião, por navio, para citar os meios mais comuns. Considerando que o Brasil é um país grande, e considerando uma redução razoável dos preços das passagens (em comparação, sei lá, com uns vinte anos atrás), muita gente tem optado por viajar de avião. Se você não mora perto das fronteiras, ir para outro país pela via terrestre então pode virar um martírio. Nesse ponto, vale aquela regra básica: programar com antecedência para pagar menos.

Em alguns casos, a passagem pode ser realmente o maior gasto de sua viagem. Não conheço o sudeste asiático, por exemplo, mas me falaram que as coisas por lá são bem baratas. Entretanto, para você chegar até lá, vai ter que despender uma boa quantia de dinheiro numa passagem de avião.

Por outro lado, muita gente se surpreende quando eu digo que é possível comprar uma passagem até a Europa por menos de dois mil reais, taxas incluídas. Não é uma quantia irrisória, claro, mas algumas pessoas têm a imagem equivocada de que uma passagem até lá custa uma fortuna. Em todo caso, em boa parte da Europa, os preços após o câmbio costumam ser bem salgados e, assim, o custo acaba ficando alto de qualquer forma.

Ainda assim, a programação pode ajudar. Ou você guarda o dinheiro, ou pode ir pagando a passagem antes. Os bilhetes da TAP, por exemplo, podem ser parcelados em até cinco vezes. As companhias brasileiras dividem em mais vezes, mas a partir de um determinado número de parcelas eles colocam juros.

Mesmo numa viagem para a Europa ou para os Estados Unidos, é possível gastar menos, uma vez lá. Quando se fala em viajar barato (ou low budget, para usar o termo inglês), a primeira palavra que vem a cabeça é “albergue”. No próximo texto, vou falar um pouco a respeito e passar algumas experiências que eu já tive neles.