Todo mundo que tem vontade de ir à Índia certamente já teve várias dúvidas a respeito das possíveis dificuldades que um turista pode enfrentar por lá. E nove entre dez pessoas que já foram certamente vão contribuir para essas dúvidas, mencionando vários perrengues da viagem.
Não sou marinheiro de primeira viagem, e já visitei alguns destinos, digamos, exóticos. Por isso, minha percepção para o que representa um perrengue em viagem pode ser um pouco mais resistente. Mas a Índia, é fato, evoca um imaginário turístico que é capaz de misturar alta espiritualidade com diarréias persistentes, palácios refinados com pobreza extrema; danças de Bollywood com vacas andando no meio da rua. Tudo o que te disseram é verdade, mas não é bem assim. Vou tentar explicar um pouco sobre isso neste texto.
Pra fechar essa introdução, devo dizer que não acho que a Índia seja um destino “ame ou odeie”. É possível amar algumas das coisas da viagem, e odiar outras. Como, penso eu, em qualquer lugar e em qualquer viagem. De todo modo, é um destino do qual ninguém sai incólume. Uma viagem para se lembrar para o resto da vida, sem dúvida, com todos os seus sentidos.
Como viajar pela Índia — contratar uma agência ou por conta própria?
Em geral, não gosto de fazer viagens com guias e pacotes. Esse é meu estilo, mas não vejo problema nenhum em quem viaja deste modo: cada um tem sua forma de fazer as coisas, o importante é viajar. Para a Índia, porém, depois de falar com algumas pessoas que já haviam ido, de ler alguns textos na internet, resolvi fechar a viagem com uma agência. Não me arrependi de fazer a viagem assim, mas vou falar o que eu achei legal e o que eu achei ruim dessa opção. No final desse tópico, relatarei um pouco do que eu acho de viajar por conta própria para lá, que é o estilo que eu costumo adotar para outros lugares.
Mesmo procurando por uma agência, há diferentes opções. Você pode contratar pacotes fechados, com destinos já predeterminados pela agência. Isso é legal para quem não quer ter o trabalho de pesquisar sobre o destino ou não tem nada em mente sobre locais específicos; normalmente a agência já escolhe os mais procurados pelos turistas. O problema, para mim, é que esses pacotes vêm com datas de início e fim já fechadas, e eu normalmente marco minhas férias para depois montar a viagem. De todo modo, vou indicar duas agências gringas com diferentes pacotes já prontos para você escolher: a Intrepid Travel e a G Adventures. A primeira foi indicada por uma amiga minha, e eu quase fechei com eles o pacote “North India Revealed”, o mesmo que ela fez. Segundo ela, tem um serviço bom, mas não é nada luxuoso — o que se reflete no preço, que não é muito caro. A segunda ela me indicou também, mas não conheço ninguém que tenha usado os serviços dela. Apesar de serem agências estrangeiras, você pode contratar os pacotes pela internet, tudo muito simples.
Eu preferi montar minha própria viagem, mas preciso dizer que não foi muito diferente desse roteiro da Intrepid Travel ou de outros disponíveis na internet. A diferença foi poder escolher quanto tempo ficar em cada lugar e fazer um desvio ou outro. Meu roteiro foi mais ou menos o seguinte: Delhi, alguns destinos no Rajastão (Jodhpur, Udaipur, Bundi, Pushkar e Jaipur), Agra, Khajuraho, Varanasi, Bodhgaya e Mumbai. Dá para fazer isso entre 20 e 30 dias, a depender de quanto tempo você ficar em cada destino, do que quiser ver no Rajastão e dos deslocamentos. Éramos apenas duas pessoas, mas acho que é possível montar também para um grupo maior.
Eu usei os serviços de uma agência indiana, que uma outra amiga, que já morou na Índia, costumava usar. Não vou indicar aqui, pois tive alguns problemas, que eu vou tentar relatar nestes textos. De todo modo, não foi nada do outro mundo ou incontornável, e eu acho que muitos dos problemas que eu tive são comuns a quase todas elas, pelo que eu percebi conversando com outros turistas no decorrer da viagem; portanto, se alguém quiser o nome e o contato dela, eu posso passar por e-mail. Só não quero ficar fazendo propaganda mesmo. Além disso, os roteiros e serviços são bem parecidos, então não teve nada de muito diferenciado nesta que eu contratei. Pelo que eu pude perceber das pesquisas que eu fiz antes de contratá-la, agências do Brasil oferecem serviços parecidos e com preços só um pouco mais caros — por isso, se você tem alguma agência de confiança aqui, de repente compensa ir com ela. Caso contrário, o ideal é sempre pedir referências.
Como disse, o legal dessa opção foi poder escolher algumas coisas específicas que eu não tinha nos pacotes fechados e ajustar o início e o final com minhas férias já marcadas. Também foi bacana ter guias em boa parte das cidades e atrações, embora a qualidade deles tenha variado. Além disso, considerando-se o assédio ao turista, bastante presente na Índia, os guias e motoristas da viagem ajudavam a dar uma espantada nessas pessoas — o que não significa que o assédio tenha desaparecido por completo. Também nos auxiliavam com coisas práticas, como trocar dinheiro, comprar ingressos para as atrações, deslocamentos etc.
Outra vantagem de ter uma agência lá é que tivemos problemas com um voo cancelado e, como ele havia sido comprado na agência, eles resolveram para a gente. Tivemos um custo extra, claro, mas foi uma mão na roda ter quem ajudasse a colocar em prática um plano B depois do cancelamento.
Já os problemas, parecem-me, são aqueles de toda viagem feita com agências e guias contratados. Por exemplo: eles adoram parar naquelas lojinhas dos amigos e conhecidos, e é claro que o que você comprar lá vai sair um pouco mais caro por causa das comissões. Como não estávamos num grupo com várias pessoas, às vezes simplesmente dizíamos que não tínhamos interesse em ver aquele “artesanato”, que a mala já estava cheia, que não tínhamos mais dinheiro para gastar, que estávamos cansados dos passeios e queríamos voltar para o hotel, dentre outras desculpas de praxe. Às vezes aceitávamos ir pela curiosidade em ver algum produto específico, e realmente a Índia é um paraíso para quem gosta de comprar coisas típicas. Mais adiante vou tentar falar um pouco sobre isso.
Além disso, embora a viagem dessa forma que eu escolhi não seja tão engessada como os pacotes fechados, você sempre fica um pouco dependente das escolhas da agência e do guia. Não houve forma de convencer nossos guias em Délhi, por exemplo, a nos levar no Forte Vermelho, uma das principais atrações da cidade — e olha que tentamos em dois dias diferentes. Disseram-nos que ele estava mal cuidado, que o preço cobrado não compensava, que veríamos a mesma coisa em Agra. Em todo caso, quase sempre sobrava um tempo no final do dia, ou nos dias previstos apenas para o deslocamento entre uma cidade e outra, quando a gente aproveitou para bater perna sozinho.
Outro ponto a respeito da montagem dos roteiros é sobre hospedagem. É possível fechar com as opções de hospedagem da própria agência ou fazer a pesquisa e reservar por conta própria. Nós preferimos esta segunda opção, mas vou falar de hospedagem num próximo tópico, então segura a leitura até lá.
Antes de montar o roteiro, eu li o excelente texto da Mari Campos (http://www.maricampos.com/india-como-eu-fui/) e peguei o contato de duas agências que ela indica ali. Não cheguei a entrar em contato com a Indian Routes, pois eles, salvo engano, só trabalham com roteiros fechados. Cheguei, porém, a mandar e-mail para a Banyan Tours, e tive uma resposta ruim. Quer dizer, há uns três anos, entrei em contato com eles uma primeira vez, e fui muito bem atendido por uma agente chamada Lucy, que entendeu a minha proposta, fez um roteiro com preços razoáveis, enfim, foi bastante atenciosa. Infelizmente não foi possível viajar naquela ocasião. Já no ano passado, quando entrei em contato novamente, não responderam a minha primeira mensagem; depois, responderam dizendo que eles são uma agência de viagens de luxo, com preços de acordo. Ou seja, faltaram dizer que não eram para o meu bico. Mas o relato da Mari Campos sobre eles é bem bacana (se bem que já tem mais de 3 anos também, essas coisas podem mudar). Devo dizer que vi carros da Banyan durante minha viagem em alguns lugares; eram carros mais confortáveis, de fato, mas não sei dizer sobre os demais serviços oferecidos.
E, baseado nestas experiências, é possível fazer a viagem para a Índia por conta própria? Depois da viagem feita, minha conclusão é que, para um viajante com certa experiência, que já montou viagens por conta própria antes, é possível, sim. Você talvez terá que lidar com alguns perrengues extras, mas não acho que seja algo do outro mundo. Acho que o pior serão as questões do assédio ao turista, que eu já mencionei, e do deslocamento, que envolve uma certa logística. Sobre isso vou tentar falar um pouco no tópico sobre transporte.
De todo modo, algumas experiências de atividades extras que nós fizemos por conta própria durante a viagem (por exemplo, o passeio para a Ilha Elefanta, perto de Mumbai), me mostraram que dá para fazer a viagem sem agências, sim, ou talvez as contratando apenas para coisas bem específicas. O guia de Mumbai queria cobrar 100 dólares para esse passeio, e no final gastamos bem pouco para fazê-lo por conta própria, sem grandes percalços.
Só acho que você deve evitar fazer isso sozinho(a) — se for viajar sozinho(a), vá com uma agência, é mais seguro. E tome as precauções normais: avise sempre em casa onde você está, tenha em mãos o telefone da embaixada do Brasil em Délhi ou de algum dos consulados (Mumbai e Calcutá), use serviços indicados por alguém de confiança.