(Este texto é uma continuação desse outro)
Terminando o passeio pelo Mall, chega-se ao famoso domo neoclássico do Congresso, ou Capitólio (que tem impressionantes 86 metros). É possível fazer uma visita interna guiada, basta procurar o Visitor Center do Capitólio. Não sei quão interessante o passeio é para um brasileiro (o foco, claro, deve ser em momentos marcantes da histórica americana); mas gostaria de fazer a visita se voltar a Washington, pelo menos para ver por dentro um prédio tão emblemático e com tanta história.
Logo atrás do Capitólio, porém, há ainda duas atrações cívicas que valem à pena olhar. Uma é o prédio neoclássico da Suprema Corte, cheio de colunas estilo grego — uma foto na frente é obrigatória pelo menos para quem, como eu, estudou Direito e ouviu falar de casos como Roe vs. Wade e Brown vs. Board of Education, decididos ali. Ao lado, fica a famosa Biblioteca do Congresso, supostamente a maior coleção de livros do mundo. Também é possível visitar os dois prédios, dê uma olhada nos links que eu coloquei no texto para maiores informações.
Teoricamente é possível visitar também a Casa Branca, mas meu guia diz que é difícil, tem que agendar com antecedência e ser residente nos Estados Unidos (ou seja, não é para a maioria de nós). Tentei achar a informação no sítio deles, mas não encontrei; se você achar o link direto, por favor, ponha aqui nos comentários. De todo modo, é possível olhá-la de fora, de uma certa distância, e é bacana ver aquela imagem tantas vezes mostrada na televisão (relativamente) de perto, ao vivo. A Casa Branca fica ao norte do Mall, mais ou menos no meio dele (em frente ao obelisco do Monumento a Washington). A fachada mais famosa, que a gente sempre vê, é a que fica virada para o Mall e a Constitution Avenue: é possível vê-la e fotografá-la através das grades (só não chegue muito perto delas, para não criar problemas com a segurança).
Lafayette Sq com a Casa Branca ao fundo
É na parte de trás, porém, voltada para a Lafayette Square, que ficam as demonstrações; sempre tem algum protestando contra alguma coisa lá, vale a pena dar uma olhada. A própria praça Lafayette é agradável e vale um passeio: cada canto dela tem uma estátua em homenagem a algum estrangeiro que ajudou na Guerra de Independência americana. O Lafayette em si era um marquês francês, nomeado general nos Estados Unidos com apenas 19 anos! Não é emblemático que a praça logo atrás da Casa Branca homenageie estrangeiros que ajudaram a causa americana? Eu achei, e para mim é mais um símbolo do lado cosmopolita da capital.
Nas proximidades do Mall ficam ainda outros dois monumentos em homenagem a ex-Presidentes americanos: o Memorial de Jefferson e o Memorial de Franklin D. Roosevelt. O primeiro é um dos pais fundadores dos Estados Unidos e autor da Declaração de Independência. Seu memorial é circular e tem frases inspiradoras de Jefferson no seu interior; fica ainda num lindo local, às margens de um laguinho formado pelo rio Potomac. Já o Memorial de Roosevelt homenageia o presidente que ajudou a tirar os Estados Unidos da Grande Depressão de 1929. É na verdade quase um museu a céu aberto, com diferentes ambientes retratando momentos da depressão e da política do New Deal criada por Roosevelt.
Ambos os memoriais ficam nas proximidades do Mall, mas a uma distância considerável. Conheci o primeiro no dia do passeio de bicicleta, e o segundo da primeira vez em que fui a Washington, onde tive um tour guiado com uma van. Ir caminhando acho que pode ser bem cansativo. Os ônibus hop-on-hop-off que eu mencionei no texto anterior fazem paradas em ambos também.
Todos os museus e atrações que eu mencionei acima são gratuitos — à exceção da subida no Obelisco, como eu já indiquei também. Ou seja: se você cansar de um museu de que você está gostando muito, dá para sair, espairecer um pouco, almoçar, e depois voltar. Sem nenhum custo extra.
Georgetown, como eu já indiquei no texto anterior, é um dos bairros fora do núcleo central de Washington que merecem uma visita. Separado da área mais central por um canal que desemboca no Rio Potomac, o bairro tem, de fato, uma característica bem diferente do resto da cidade. Aqui a escala é menor e menos monumental; as casas de tijolos ou coloridas apresentam um estilo meio inglês, como em outras cidades da época das 13 Colônias. É um bairro cheio de estudantes também, já que ali fica a imponente Georgetown University, com aquelas construções que lembram Hogwarts, do Harry Potter.
Por atrair estudantes da aristocracia americana, Georgetown também padece de uma certa aura “elitista” (inegável se comparada com a de outras regiões da cidade); mas o charme do bairro é também inegável, e como você não vai morar lá, não precisa se preocupar tanto com divisões de classe. Tirando os prédios da universidade, não há tantas atrações turísticas, o que vale mesmo é passear pelas agradáveis ruas, algumas de paralelepípedo, ou pelo parque que margeia o Rio Potomac. A rua principal do bairro, a M Street, pode ficar meio congestionada e barulhenta, mas é lá também que ficam vários restaurantes, cafés, bares e lojas do bairro. Além disso, se a muvuca de estudantes ébrios ficar muito incômoda, é só pegar uma rua transversal para mudar de ares. É na M Street também que você pega o Circulator, aquele ônibus que te leva para a região central de Washington, que eu também mencionei no texto anterior.
Um último detalhe macabro: é em Georgetown que fica também a escadaria que dava acesso à casa da menina possuída no filme O Exorcista (o endereço é 3600 Prospect St NW). Para quem gosta de filmes de terror, vale a visita, de preferência numa noite bem escura.
Outra área agitada da cidade é a região do Dupont Circle. O Dupont Circle em si é uma rotatória bem grande que conta com uma estação de metrô. Porém, a região ao redor é conhecida pelo mesmo nome e é bem movimentada. Para começar, ali ficam várias embaixadas — como a indiana, que tem uma estátua do Gandhi na frente (a do Brasil fica bem mais ao norte, já fora da área do Dupont Circle) –, o que traz um colorido cosmopolita para a região. Não por outro motivo, restaurantes de diferentes países ficam por ali, de modo que dá para provar um pouco de diferentes partes do mundo ali. Também reúne bares — alguns dos principais voltados para o público LGBT ficam na região –, cafés, livrarias… enfim, pode não ser aquele programa eminentemente turístico, mas é um bairro bacana para passar algumas horas flanando.
A região da U Street e da área ao redor, conhecida como Shaw, era tradicionalmente um reduto negro da capital, como o Harlem em Nova Iorque. E, assim como o Harlem, passou por um período de decadência seguido por um renascimento — o que, por um lado, melhorou a segurança e permitiu que eu e você visitemos a região, mas, por outro, encareceu os preços para a comunidade tradicional que vivia ali. Teoria urbana na prática. Ainda assim, é uma experiência interessante para o turista. A região reúne algumas boates famosas de Washington, um dos clubes de jazz mais tradicionais da cidade (o Bohemian Caverns) e ainda mantém um pouco da cultura negra original. Comi num restaurante bacana ali, o Busboy and Poets, que mistura biblioteca e restaurante, com ambiente bem legal. Parece que rolam alguns eventos culturais lá e pareceu-me que muita gente vai também só para beber.
Minha última dica de passeio em Washington não fica exatamente em Washington. É o passeio até Alexandria, uma cidade mais antiga que a capital em si. Tem aquele jeito de cidade antiga da época das colônias, com muitas construções de tijolinho, muitas transformadas em lojas e restaurantes. Há uma antiga fábrica de munições transformada em espaço para arte, onde é possível ver os artistas trabalhando — o Torpedo Factory Art Center. Como a cidade também fica às margens do Rio Potomac, há um píer onde atracam embarcações com aquele jeito de barcos à vapor antigos. É possível chegar até Alexandria pelo metrô de Washington, bastando pegar as linhas azul ou amarela (as mesmas que passam pelo aeroporto Ronald Reagan) até a estação King St.
Minhas dicas de restaurante estão, obviamente, meio defasadas, já que eu visitei a cidade em 2010. Ainda assim, procurei confirmar alguns locais com amigos que vão até Washington a trabalho com frequência, bem como visitei os sítios dos lugares que eu vou indicar aqui. Em todo caso, fica o alerta de que alguma dica pode ter fechado as portas ou mesmo não estar mais tão legal como quando eu fui. Alguns eu já mencionei no decorrer do texto, como o Busboy and Poets, na região da U Street, e o restaurante do Museu do Índio Americano, de que eu falei no post anterior.
O Zaytinya fica na Região do Penn Quarter, tem inspiração mediterrânea (principalmente grega e libanesa) e um menu de tapas (mezze) interessante. O ambiente é classudo, mas nada intimidador. Bem próximo ficava o Oya, de comida asiática, onde nós almoçamos em um intervalo de visitação aos museus do National Mall; a página deles, entretanto, avisa que eles fecharam em setembro de 2015 e vão reabrir no inverno com outro nome.
Gostei muito dos sushis do Maté, em Georgetown: estavam suculentos e havia opções diferentes para fugir do convencional. Fomos à noite e os drinks também estavam bons — só lembrando que, assim como em vários lugares, eles cobram identificação para vender bebidas alcoólicas.
Não sou grande fã de cupcakes, mas confesso que fiquei meio viciado nos da Baked and Wired, que ficava perto do nosso hotel em Georgetown. Descobrimos por acaso e passamos a tomar café da manhã todos os dias lá, para experimentar diferentes bolinhos. Pior foi descobrir só no último dia que nosso hotel tinha café da manhã incluído! Mas, devo admitir, não me arrependo de forma alguma de ter perdido os cafés do hotel para poder comer os cupcakes de lá.
O 18th Street Lounge é um bar na região do Dupont Circle que tem programação noturna e também funciona para um happy hour. É um casarão com vários andares e ambientes num estilo meio pub antigo, mas como fomos para o happy hour num dia ensolarado de final de verão, era o terraço aberto que estava animado. No dia em que eu fui, o público me pareceu de gente por volta dos 30 anos que tinha acabado de sair do trabalho, mas pode ser que ele varie a depender do dia e do horário.