Washington DC — Parte 2

(Este texto é uma continuação desse outro)

Capitólio e sua cúpula

Capitólio e sua cúpula

Terminando o passeio pelo Mall, chega-se ao famoso domo neoclássico do Congresso, ou Capitólio (que tem impressionantes 86 metros). É possível fazer uma visita interna guiada, basta procurar o Visitor Center do Capitólio. Não sei quão interessante o passeio é para um brasileiro (o foco, claro, deve ser em momentos marcantes da histórica americana); mas gostaria de fazer a visita se voltar a Washington, pelo menos para ver por dentro um prédio tão emblemático e com tanta história.

Suprema Corte

Suprema Corte

Logo atrás do Capitólio, porém, há ainda duas atrações cívicas que valem à pena olhar. Uma é o prédio neoclássico da Suprema Corte, cheio de colunas estilo grego — uma foto na frente é obrigatória pelo menos para quem, como eu, estudou Direito e ouviu falar de casos como Roe vs. Wade e Brown vs. Board of Education, decididos ali. Ao lado, fica a famosa Biblioteca do Congresso, supostamente a maior coleção de livros do mundo. Também é possível visitar os dois prédios, dê uma olhada nos links que eu coloquei no texto para maiores informações.

Biblioteca do Congresso

Biblioteca do Congresso

Fachada da Casa Branca virada para o Mall

Fachada da Casa Branca virada para o  Mall

Teoricamente é possível visitar também a Casa Branca, mas meu guia diz que é difícil, tem que agendar com antecedência e ser residente nos Estados Unidos (ou seja, não é para a maioria de nós). Tentei achar a informação no sítio deles, mas não encontrei; se você achar o link direto, por favor, ponha aqui nos comentários. De todo modo, é possível olhá-la de fora, de uma certa distância, e é bacana ver aquela imagem tantas vezes mostrada na televisão (relativamente) de perto, ao vivo. A Casa Branca fica ao norte do Mall, mais ou menos no meio dele (em frente ao obelisco do Monumento a Washington). A fachada mais famosa, que a gente sempre vê, é a que fica virada para o Mall e a Constitution Avenue: é possível vê-la e fotografá-la através das grades (só não chegue muito perto delas, para não criar problemas com a segurança).

Protestos em frente à Casa Branca, na fachada voltada para a Lafayette Sq

Protestos em frente à Casa Branca, na fachada voltada para a Lafayette Sq

Lafayette Sq com a Casa Branca ao fundo

Lafayette Sq com a Casa Branca ao fundo

É na parte de trás, porém, voltada para a Lafayette Square, que ficam as demonstrações; sempre tem algum protestando contra alguma coisa lá, vale a pena dar uma olhada. A própria praça Lafayette é agradável e vale um passeio: cada canto dela tem uma estátua em homenagem a algum estrangeiro que ajudou na Guerra de Independência americana. O Lafayette em si era um marquês francês, nomeado general nos Estados Unidos com apenas 19 anos! Não é emblemático que a praça logo atrás da Casa Branca homenageie estrangeiros que ajudaram a causa americana? Eu achei, e para mim é mais um símbolo do lado cosmopolita da capital.

Memorial de Jefferson

Memorial de Jefferson

Nas proximidades do Mall ficam ainda outros dois monumentos em homenagem a ex-Presidentes americanos: o Memorial de Jefferson e o Memorial de Franklin D. Roosevelt. O primeiro é um dos pais fundadores dos Estados Unidos e autor da Declaração de Independência. Seu memorial é circular e tem frases inspiradoras de Jefferson no seu interior; fica ainda num lindo local, às margens de um laguinho formado pelo rio Potomac. Já o Memorial de Roosevelt homenageia o presidente que ajudou a tirar os Estados Unidos da Grande Depressão de 1929. É na verdade quase um museu a céu aberto, com diferentes ambientes retratando momentos da depressão e da política do New Deal criada por Roosevelt.

Memorial de Roosevelt

Memorial de Roosevelt

Ambos os memoriais ficam nas proximidades do Mall, mas a uma distância considerável. Conheci o primeiro no dia do passeio de bicicleta, e o segundo da primeira vez em que fui a Washington, onde tive um tour guiado com uma van. Ir caminhando acho que pode ser bem cansativo. Os ônibus hop-on-hop-off que eu mencionei no texto anterior fazem paradas em ambos também.

Todos os museus e atrações que eu mencionei acima são gratuitos — à exceção da subida no Obelisco, como eu já indiquei também. Ou seja: se você cansar de um museu de que você está gostando muito, dá para sair, espairecer um pouco, almoçar, e depois voltar. Sem nenhum custo extra.

Georgetown University

Georgetown University

Georgetown, como eu já indiquei no texto anterior, é um dos bairros fora do núcleo central de Washington que merecem uma visita. Separado da área mais central por um canal que desemboca no Rio Potomac, o bairro tem, de fato, uma característica bem diferente do resto da cidade. Aqui a escala é menor e menos monumental; as casas de tijolos ou coloridas apresentam um estilo meio inglês, como em outras cidades da época das 13 Colônias. É um bairro cheio de estudantes também, já que ali fica a imponente Georgetown University, com aquelas construções que lembram Hogwarts, do Harry Potter.

Casas em Georgetown

Casas em Georgetown

Por atrair estudantes da aristocracia americana, Georgetown também padece de uma certa aura “elitista” (inegável se comparada com a de outras regiões da cidade); mas o charme do bairro é também inegável, e como você não vai morar lá, não precisa se preocupar tanto com divisões de classe. Tirando os prédios da universidade, não há tantas atrações turísticas, o que vale mesmo é passear pelas agradáveis ruas, algumas de paralelepípedo, ou pelo parque que margeia o Rio Potomac. A rua principal do bairro, a M Street, pode ficar meio congestionada e barulhenta, mas é lá também que ficam vários restaurantes, cafés, bares e lojas do bairro. Além disso, se a muvuca de estudantes ébrios ficar muito incômoda, é só pegar uma rua transversal para mudar de ares. É na M Street também que você pega o Circulator, aquele ônibus que te leva para a região central de Washington, que eu também mencionei no texto anterior.

Um último detalhe macabro: é em Georgetown que fica também a escadaria que dava acesso à casa da menina possuída no filme O Exorcista (o endereço é 3600 Prospect St NW). Para quem gosta de filmes de terror, vale a visita, de preferência numa noite bem escura.

Dupont Circle

Dupont Circle

Outra área agitada da cidade é a região do Dupont Circle. O Dupont Circle em si é uma rotatória bem grande que conta com uma estação de metrô. Porém, a região ao redor é conhecida pelo mesmo nome e é bem movimentada. Para começar, ali ficam várias embaixadas — como a indiana, que tem uma estátua do Gandhi na frente (a do Brasil fica bem mais ao norte, já fora da área do Dupont Circle) –, o que traz um colorido cosmopolita para a região. Não por outro motivo, restaurantes de diferentes países ficam por ali, de modo que dá para provar um pouco de diferentes partes do mundo ali. Também reúne bares — alguns dos principais voltados para o público LGBT ficam na região –, cafés, livrarias… enfim, pode não ser aquele programa eminentemente turístico, mas é um bairro bacana para passar algumas horas flanando.

Estátua de Gandhi na frente da Embaixada da Índia, região do Dupont Circle

Estátua de Gandhi na frente da Embaixada da Índia, região do Dupont Circle

A região da U Street e da área ao redor, conhecida como Shaw, era tradicionalmente um reduto negro da capital, como o Harlem em Nova Iorque. E, assim como o Harlem, passou por um período de decadência seguido por um renascimento — o que, por um lado, melhorou a segurança e permitiu que eu e você visitemos a região, mas, por outro, encareceu os preços para a comunidade tradicional que vivia ali. Teoria urbana na prática. Ainda assim, é uma experiência interessante para o turista. A região reúne algumas boates famosas de Washington, um dos clubes de jazz mais tradicionais da cidade (o Bohemian Caverns) e ainda mantém um pouco da cultura negra original. Comi num restaurante bacana ali, o Busboy and Poets, que mistura biblioteca e restaurante, com ambiente bem legal. Parece que rolam alguns eventos culturais lá e pareceu-me que muita gente vai também só para beber.

Píer de Alexandria

Píer de Alexandria

Minha última dica de passeio em Washington não fica exatamente em Washington. É o passeio até Alexandria, uma cidade mais antiga que a capital em si. Tem aquele jeito de cidade antiga da época das colônias, com muitas construções de tijolinho, muitas transformadas em lojas e restaurantes. Há uma antiga fábrica de munições transformada em espaço para arte, onde é possível ver os artistas trabalhando — o Torpedo Factory Art Center. Como a cidade também fica às margens do Rio Potomac, há um píer onde atracam embarcações com aquele jeito de barcos à vapor antigos. É possível chegar até Alexandria pelo metrô de Washington, bastando pegar as linhas azul ou amarela (as mesmas que passam pelo aeroporto Ronald Reagan) até a estação King St.

Rua de Alexandria

Rua de Alexandria

Minhas dicas de restaurante estão, obviamente, meio defasadas, já que eu visitei a cidade em 2010. Ainda assim, procurei confirmar alguns locais com amigos que vão até Washington a trabalho com frequência, bem como visitei os sítios dos lugares que eu vou indicar aqui. Em todo caso, fica o alerta de que alguma dica pode ter fechado as portas ou mesmo não estar mais tão legal como quando eu fui. Alguns eu já mencionei no decorrer do texto, como o Busboy and Poets, na região da U Street, e o restaurante do Museu do Índio Americano, de que eu falei no post anterior.

Zaytinya

Zaytinya

O Zaytinya fica na Região do Penn Quarter, tem inspiração mediterrânea (principalmente grega e libanesa) e um menu de tapas (mezze) interessante. O ambiente é classudo, mas nada intimidador. Bem próximo ficava o Oya, de comida asiática, onde nós almoçamos em um intervalo de visitação aos museus do National Mall; a página deles, entretanto, avisa que eles fecharam em setembro de 2015 e vão reabrir no inverno com outro nome.

Gostei muito dos sushis do Maté, em Georgetown: estavam suculentos e havia opções diferentes para fugir do convencional. Fomos à noite e os drinks também estavam bons — só lembrando que, assim como em vários lugares, eles cobram identificação para vender bebidas alcoólicas.

Baked and Wired -- imagem obtida no site deles (www.bakedandwired.com)

Baked and Wired — imagem obtida no sítio deles (www.bakedandwired.com)

Não sou grande fã de cupcakes, mas confesso que fiquei meio viciado nos da Baked and Wired, que ficava perto do nosso hotel em Georgetown. Descobrimos por acaso e passamos a tomar café da manhã todos os dias lá, para experimentar diferentes bolinhos. Pior foi descobrir só no último dia que nosso hotel tinha café da manhã incluído! Mas, devo admitir, não me arrependo de forma alguma de ter perdido os cafés do hotel para poder comer os cupcakes de lá.

Terraço do 18th Street Lounge

Terraço do 18th Street Lounge – imagem obtida em http://www.deafnightlife.com

O 18th Street Lounge é um bar na região do Dupont Circle que tem programação noturna e também funciona para um happy hour. É um casarão com vários andares e ambientes num estilo meio pub antigo, mas como fomos para o happy hour num dia ensolarado de final de verão, era o terraço aberto que estava animado. No dia em que eu fui, o público me pareceu de gente por volta dos 30 anos que tinha acabado de sair do trabalho, mas pode ser que ele varie a depender do dia e do horário.

Washington DC — Parte 1

Capitólio

A “clássica” foto do Capitólio em Washington

Washington, a capital dos Estados Unidos, na minha opinião, é bem subaproveitada pelos brasileiros. Frequentemente é deixada de lado em troca dos prazeres mundanos de Nova Iorque ou dos destinos da Flórida. E, no entanto, fica a uma curta viagem de trem de Nova Iorque, ou seja: dá para combinar alguns dias lá com uma viagem à Big Apple, tranquilamente. Eu, pessoalmente, achei a cidade muito bacana, e com atrações suficientes para deixar qualquer viajante entretido.

Memorial de Lincoln

Memorial de Lincoln

Boa parte delas são museus, é certo. Mas também tem bairros bacaninhas para bater perna, monumentos mundialmente conhecidos, bons restaurantes, um certo ar cosmopolita de uma capital com embaixadas de praticamente todos os países do mundo… enfim, mesmo se você nem gosta tanto de museus, um passeio pela cidade certamente já vai valer a visita.

Casas no bairro de Georgetown

Casas no bairro de Georgetown

Se você for no voo internacional que sai de São Paulo, da United, vai descer no Aeroporto Internacional Dulles, que é longe para burro — fica pouco mais de 40 km da cidade, já no Estado da Virginia. Há serviços de shuttle tanto daquele tipo que te deixa na porta do hotel em vans coletivas (meu guia recomenda o Washington Flyer, não sei se é o único), como para alguma estação de metrô próxima (como Rosslyn ou Wiehle-Reston East). A linha prata do metrô, aliás, deve ganhar uma estação no Dulles, mas isso deve demorar ainda alguns anos. Um táxi vai custar mais de 50 dólares.

Já num voo interno, é possível que você chegue no Ronald Reagan-National (por exemplo, peguei um voo de lá para Chicago na minha última viagem aos Estados Unidos). Eu daria preferência a esta opção para voos internos porque o Ronald Reagan fica mais próximo da cidade e já é conectado com as linhas azul e amarela do metrô de Washington. E ainda é bem mais próximo da cidade — embora também fique em Virginia, é logo do outro lado do Rio Potomac, que contorna o lado ocidental de Washington e do Distrito de Columbia.

Union Station

Union Station

Se você estiver vindo de (ou indo para) Nova Iorque, porém, acho o trem imbatível. Ele sai da Penn Station em Nova Iorque, que é super central — ou seja, você não precisa daqueles shuttles xexelentos para se deslocar até um dos distantes aeroportos de Nova Iorque. Em Washington, o trem chega na linda Union Station, também bem central, próxima ao Mall e ao Capitólio. A Union Station é, por si só, uma atração turística, vale muito à pena passar um tempinho ali admirando a beleza da construção antes de deixar a estação. É possível comprar o bilhete de trem pela internet, já do Brasil. O trem mais rápido entre Nova Iorque e Washington é o Acela, que pára apenas em Philadelphia e Baltimore e que chega a mais de 200 km/h.

Interior da ala moderna da Galeria Nacional de Arte

Interior da ala moderna da Galeria Nacional de Arte

E quantos dias dá para passar em Washington? Considerando-se a quantidade de museus só no Mall, eu diria que muitos. Só que ninguém aguenta ficar enfurnado em museu muitos dias, né? Então minha sugestão é três dias, para fazer passeios variados. Mas se você quiser conhecer vários dos museus da cidade (que não deixam nada a dever aos museus de Nova Iorque ou de capitais da Europa, diga-se de passagem), melhor separar mais alguns dias.

Mapa do metrô de Washington

Mapa do metrô de Washington

Para explorar a cidade, Washington tem um excelente metrô. Depois daquelas estações capengas e lúgubres de Nova Iorque, dá até vontade de chorar quando você entra numa das estações do metrô de Washington. Limpas, espaçosas, grandiosas. Mas, devo dizer, o metrô da capital não chega a todos os lugares, embora esteja em constante expansão: a linha prata, que pretende chegar até o Dulles Airport, foi inaugurada em 2014 (baixe o mapa atualizado, em pdf em português, aqui). Para ir a Georgetown, por exemplo, um dos bairros que vale à pena visitar, tem que ir de ônibus. Se você estiver lá (Georgetown), use o Circulator, um ônibus que custa 1 dólar apenas. A linha azul clara te deixa perto do Dupont Circle, enquanto a linha amerela vai até a Union Station, passando ao norte do centro cívico, para onde dá para descer andando — ou então entre numa das estações de metrô do caminho, como Foggy Bottom – George Washington University, Farragut North/West ou McPherson Sq.

Vista do National Mall a partir do Memorial de Lincoln

Vista do National Mall a partir do Memorial de Lincoln

E as atrações propriamente ditas? Bem, um passeio por Washington não pode deixar de lado o National Mall, o centro cívico e de poder de Washington. Não é na verdade uma avenida, mas uma grande área verde cheia de monumentos entre a Constitution e a Independence Avenues. Começa no Memorial de Lincoln, passa pelo Obelisco, em frente à Casa Branca, por inúmeros museus, e chega até o Congresso. Todas as grandes manifestações importantes da história americana passaram por lá, como o famoso discurso de Martin Luther King e as passeatas contra a Guerra do Vietnã — uma das cenas de Forrest Gump, aliás, acontece ali.

A propósito, o Mall, dizem, foi uma das inspirações do Lúcio Costa para o Eixo Monumental de Brasília, mais especificamente a Esplanada dos Ministérios. Olha, eu sou brasiliense e amo a minha cidade, e até prefiro as linhas da arquitetura moderna àquele estilo clássico sisudo da Casa Branca ou do Congresso americano. Mas quando penso na quantidade de museus que eles conseguiram colocar ao redor do Mall em Washington, com acervos de cair o queixo, não dá para ficar muito satisfeito com a comparação. Ela serve, em todo caso, para explicar a importância que o Mall tem do ponto de vista cívico e político para Washington e para os americanos.

As lindas árvores do outono em Washington, com o Capitólio ao fundo

As lindas árvores do outono em Washington, com o Capitólio ao fundo

Para explorar o Mall, dá para pegar aqueles ônibus hop-on-hop-off, em que você pode subir e descer no percurso. Se o clima estiver agradável, porém, uma boa é alugar uma bicicleta. Nós alugamos uma em Georgetown, mas eu não vou nem procurar o lugar para indicar porque as bicicletas vinham sem cadeado. Ou seja, a gente até cruzou o Mall todo, fomos a outros lugares, mas não tínhamos como entrar nas atrações em si porque não havia como prender as bicicletas. A propósito, Washington é famosa por ter verões quentes e invernos rigorosos, com muita neve (de fechar escolas e repartições às vezes). Quando fui da última vez, em setembro, já no final do verão, estava quente para burro, enquanto em Boston e Chicago já estava fazendo um pouco de frio. Por isso, a bicicleta deve ser uma opção melhor na primavera ou no outono. Nesta última estação, aliás, Washington fica linda, com aquelas árvores de folhas coloridas por toda a cidade.

Sol de pondo atrás do Memorial de Lincoln

Sol se pondo atrás do Memorial de Lincoln

Vamos começar por uma das pontas do Mall, a oeste. Como disse acima, ela começa no Memorial de Lincoln, um dos principais e mais famosos da cidade, com aquela estátua gigantesca do ex-presidente americano sentado, olhando todo o Mall lá de cima. É possível ler trechos de alguns de seus discursos na parede, e a vista do alto das escadarias é especial. Ver o pôr do sol, refletido no laguinho que fica em frente ao memorial, também vale muito à pena.

A famosa estátua do Memorial de Lincoln

A famosa estátua do Memorial de Lincoln

Na sequência, um de cada lado do laguinho em frente ao Memorial de Lincoln, ficam os Memoriais dos Veteranos da Guerra do Vietnã e da Coréia. Não os visitei, então nada tenho a dizer a respeito. Já do outro lado do laguinho, antes da 17th St, fica o Memorial da Segunda Guerra Mundial. Traz citações de personalidades da época, e os 56 pilares representam os estados americanos e demais territórios (como Porto Rico, Guam e Samoa Americana), indicando que todos contribuíram com o esforço da guerra. Os dois pavilhões maiores representam os dois principais cenários onde os Estados Unidos lutaram — o Atlântico (Europa) e o Pacífico.

Memorial da Segunda Guerra Mundial

Memorial da Segunda Guerra Mundial

Já do outro lado da 17th St, no meio do gramado, está o famoso obelisco, chamado de Memorial de Washington, mais ou menos em frente à Casa Branca (que fica do outro lado da Constitution Avenue). Rodeado de bandeirinhas americanas, é bem alto: tem cerca de 170 metros de altura. É possível adentrar e subir no memorial, mas para isso é necessário adquirir um tíquete num quiosque nas proximidades do monumento.

Memorial de Washington

Memorial de Washington

Fachada do Museu Hishhorn

Fachada do Museu Hishhorn

A partir daí, depois da 14th St, vêm os museus. Vou listá-los abaixo na mesma ordem seguida até aqui (de oeste para leste), primeiro os que ficam “acima” do Mall (de frente para a Constitution Avenue), depois os que ficam “abaixo” (de frente para a Independence Avenue). Depois vou fazer comentários rápidos sobre os que eu visitei. Como gosto mais de arte, me concentrei nesse tipo de museu (há alguns deles no Mall), mas há museus de todos os tipos e gostos. Do lado de cima, estão o Museu Nacional de História Americana, o Museu Nacional de História Natural e a Galeria Nacional de Arte (que tem duas alas, uma de cada lado da 4th St). Do lado de baixo, estão o Museu do Holocausto, as Galerias de Arte Freer e Arthur M Sackler, o prédio do Instituto Smithsoniano (que parece um castelinho e funciona como um centro para os visitantes dos museus ao redor), o Museu Nacional de Arte Africana, o Museu Hishhorn, o Museu Nacional do Ar e do Espaço, e o Museu Nacional do Índio Americano. Deu para ver que dá para passar dias visitando museus em Washington, né?

Instituto Smithsoniano

Instituto Smithsoniano

Museu de História Natural

Museu de História Natural

O Museu Nacional de História Natural é daquele tipo que desperta a criança que tem dentro da gente. Não conheço o Museu de História Natural de Nova Iorque, mais famoso, mas o de Washington é bem bacana. Tem ossos de dinossauro, animais empalhados de praticamente todos os cantos do mundo (inclusive do Brasil), uma exposição sobre a evolução do homem… Enfim, o normal em um museu de história natural. Se você não gosta muito de fósseis e animais, porém, pule. No outro espectro da evolução tecnológica, está o Museu Nacional do Ar e do Espaço. Não o visitei, mas costuma ser listado como um dos favoritos do  Mall, e quem conheceu me disse que é muito legal. Reúne artefatos das aventuras espaciais e aeronáuticas americanas, como uma cápsula lunar, o avião usado por Charles Lindbergh para cruzar o Atlântico e o avião original criado pelos irmãos Wright (que concorrem com Santos Dumont pelo posto de quem inventou o avião).

Galeria Nacional de Arte

Galeria Nacional de Arte

Já do lado das artes, conheci a Galeria Nacional de Arte. Como disse acima, tem dois pavilhões: um mais clássico e outro bem moderno, desenhado pelo IM Pei (o mesmo da Pirâmide do Louvre). São tão grandes que eu visitei em dias separados. A ala clássica não fica a dever em nada ao Metropolitan de Nova Iorque. Tem desde quadros medievais até obras do começo do século XX, com vários clássicos da arte europeia — incluindo o único da Vinci em exposição permanente nas Américas, e algumas coisas de Monet e Van Gogh. A ala moderna tem arte contemporânea, incluindo trabalhos de artistas americanos consagrados (como Georgia O’Keefe, David Hockney e Rothko), móbiles do Alexander Calder, trabalhos de Henry Moore, dentre outros. É possível transitar entre os dois pavilhões por um túnel subterrâneo, cheio de luzes (bem psicodélico).

Ginevra de' Benci, de Leonardo da Vinci

Ginevra de’ Benci, de Leonardo da Vinci

Túnel

Túnel “psicodélico” ligando as duas alas da Galeria Nacional de Arte

Não deixe de forma alguma de visitar o jardim de esculturas da Galeria Nacional, logo antes, no Mall, da ala clássica (no sentido oeste-leste). Além de ter um café para relaxar um pouco da maratona de museus e uma fonte onde as pessoas refrescam os pés nos dias de calor, têm várias esculturas bacanas, como uma do Joan Miró, uma vermelha bem grande do Alexander Calder, uma interessante árvore metálica do artista americano Roxy Paine, uma “casa” desenhada pelo Roy Lichtenstein, uma pirâmide do Sol LeWitt, enfim, muita coisa interessante. Não visitei, mas para quem gosta de arte moderna e contemporânea, a coleção do Museu Hishhorn é bem avaliada, inclusive com trabalho de artistas pop como Andy Warhol. O Hishhorn também tem um jardim de esculturas em frente. Já as Galerias Freer e Arthur M Sackler (que eu tampouco visitei) reúnem acervo de arte asiática.

Jardim de esculturas da Galeria Nacional

Jardim de esculturas da Galeria Nacional

Fonte do jardim de esculturas

Fonte do jardim de esculturas

Museu Nacional do Índio Americano

Museu Nacional do Índio Americano

O último museu do Mall que eu visitei foi o Museu Nacional do Índio Americano. O prédio, bem moderno, mas com uma fachada de pedra com ar meio rústico, tem um acervo bem interativo, mas não me “pegou de jeito”. Vale a visita, de todo modo, por causa do restaurante: as várias ilhas preparam pratos inspirados em alimentos que as diferentes etnias de índios americanos consumiam, como milho, arroz selvagem, mandioca, quinoa, carne de bisão, alce, peru e peixes como truta e salmão. Você pode escolher pratos, entradas, acompanhamentos e sobremesas de diferentes ilhas (cada uma dedicada a uma região); cobra-se a porção.

(Este texto continua nesse outro).

Chicago – alguns aspectos práticos

1) Onde ficar?

O famoso letreiro luminoso do Teatro Chicago, no Theater District

A área central de Chicago é conhecida como “The Loop”, onde boa parte das atrações ficam (como o Millennium Park, o Art Institute of Chicago e a Sears Tower). É uma região compacta e de fácil locomoção à pé, além de ser cruzada por várias linhas do metrô — aliás, o nome da região deve-se ao fato de que várias linhas do metrô elevado percorrem o Loop de forma circular. Só que eu fiquei com a impressão de que o Loop é uma área basicamente comercial, daquelas que à noite fica bem vazia. Não sei até que ponto essa impressão é verdadeira, mas, se for para ficar no Loop, o melhor é escolher um hotel próximo ao chamado “Theater District” de Chicago (na área da esquina da Dearborn St com a Randolph St, no norte do Loop), onde muitos teatros da cidade ficam. Essa região pareceu-me bem movimentada à noite.

Vista da área norte de Chicago

Eu escolhi ficar o bairro de Near North, imediatamente ao norte do Loop, do outro lado do rio. Embora não tenha grandes atrações turísticas, a região tem vários hotéis, é próxima ao Loop (dá para ir à pé, basta cruzar o rio), além de ser cortada pelas linhas vermelha, roxa e marrom do metrô. Além disso, o trecho da Michigan Avenue que atravessa o bairro é conhecido como “Magnificent Mile”, pela alta concentração de lojas — o que pode animar os visitantes mais consumistas. Também é uma área com opções de bares e restaurantes — embora não tão estrelada como a área a oeste do Loop, de que falei no texto anterior –, facilitando quem não quer ir muito longe à noite para jantar. Finalmente, não muito longe do Near North, no bairro que fica logo em seguida ao norte, chamado Gold Coast, há uma área com ampla oferta de diversão noturna, entre a Rush e a State Streets. Por tudo isso, escolhi o Near North para ficar.

Entrada do hotel Dana, onde me hospedei

A propósito, o hotel em que eu fiquei foi o Dana Hotel and Spa, para o qual consegui um boa tarifa pelo booking.com. O atendimento foi atencioso, a localização é excelente e os quartos são bons — à exceção de um vidro do banheiro, que permite a visualização por quem estiver no quarto. Claro que isto pode “apimentar” uma relação em crise, mas pode também causar constrangimentos caso não exista muita intimidade entre os viajantes. Há também um bar no terraço do hotel, com lindas vistas da cidade.

Vista do terraço do nosso hotel à noite

2) Quanto tempo ficar?

Não gosto muito de sugerir o tempo que cada pessoa deve passar em um destino, já que cada um tem seu ritmo de fazer turismo e dispõe de mais ou menos tempo para ficar na cidade, de acordo com a programação. Eu, pessoalmente, não gosto de fazer as coisas correndo, mas também gosto de aproveitar a mesma viagem para conhecer vários lugares.

O que você tem que ter em mente é que Chicago é um destino “isolado” nos Estados Unidos, que fica difícil conhecer se não for de avião. Não dá para fazer como Boston e Nova Iorque, ou Miami e Orlando. Por isso, ir até lá e passar só um dia não deve compensar o “desvio”. Se for para fechar em um número, eu diria que 3 dias completos são razoáveis para conhecer a cidade.

3) Aeroportos

Chicago é servida por dois aeroportos, o O’Hare (código ORD) e o Midway (código MDW), mas o mais provável é que você chegue pelo O’Hare, já que ele é o segundo aeroporto mais movimentado dos Estados Unidos. É também onde está baseada a companhia United Airlines. O aeroporto é realmente gigantesco; por isso, recomendo chegar com bastante antecedência para não perder o voo.

De qualquer forma, ambos os aeroportos estão conectados ao “El”, o O’Hare com a linha azul e o Midway com a linha laranja. Estima-se o tempo de viagem até o centro em 45 minutos, a partir do O’Hare, e em 30 minutos, a partir do Midway.

Usamos o “El” tranquilamente quando chegamos no O’Hare e, após duas conexões, descemos bem próximos ao hotel. Na volta, como nosso voo saía do O’Hare relativamente cedo, ficamos com receio de depender do horário dos trens e pegamos um táxi. Não me lembro exatamente do valor da corrida, mas o Lonely Planet estima algo entre 35 e 45 dólares (eu acho que custou um pouco mais que isso, mas não tenho certeza).

4) Usando o metrô

Mapa do metrô de Chicago

Conforme relatei no texto anterior, o sistema de metrô de Chicago é conhecido como “El”, ou simplesmente “L”, de elevated, já que ele corre, em boa parte, por cima das ruas da cidade. Achei o sistema seguro, e mesmo à noite não tivemos problemas — embora a frequência possa assustar um pouco. Como disse acima, conseguimos pegar o metrô já na chegada, no aeroporto de O’Hare, sem problemas.

The El

Ainda no aeroporto, adquirimos um cartão que dava direito a viagens ilimitadas por três dias, ao custo de 14 dólares. Há outro para um dia, que custa US$ 5,75, e outro para sete dias, com preço de US$ 23,00. Como a viagem simples custa US$ 2,25, não sei dizer se valeu à pena, mas pelo menos usamos o metrô durante todo o período na cidade (que foi exatamente de três dias), sem preocupações. Todos os preços das tarifas você encontra no sítio da CTA (a Chicago Transit Authority).

Cuidado com malas muito grandes: algumas estações centrais (e antigas) são limitadas no quesito acessibilidade, o que significa ter que subir e descer escadas.

5) Praias em Chicago?

Sim, o Lago Michigan tem algumas praias dentro da cidade. Não as conheci, pois, quando visitei Chicago, no final de setembro, o clima já estava razoavelmente frio (durante o dia não passava dos 15 graus). Em todo caso, o Lonely Planet diz que as praias ficam bem animadas durante o verão; por isso, se você for entre junho e agosto, tente ver como é uma praia em Chicago e depois venha aqui contar suas impressões.

As principais faixas de areia de Chicago são a North Ave Beach, em frente ao Lincoln Park (região norte da cidade), Oak St Beach, no bairro de Gold Coast e a 12th St Beach, perto do Planetário Adler.

6) Mais restaurantes

No texto anterior, eu falei da crescente cena gastronômica de Chicago, com vários restaurantes estrelados no Guia Michellin. Mas o viajante com orçamento limitado (ou o mão-de-vaca) pergunta se não há outras dicas de restaurantes mais em conta.

Experimentei três restaurantes indicados no Lonely Planet numa faixa de preço mais tranquila. Aqui vão minhas impressões:

Twin Anchors e a cerveja “Maudite”

a) Twin Anchors (1655 N Sedgwick St): na região conhecida como Old Town, próximo à estação Sedgwick das linhas marrom e roxa do metrô, fica esse restaurante despretensioso, com decoração old school. Chamou a atenção a simpatia da atendente, que achou curioso dois brasileiros em Chicago. A especialidade local são as carnes — gigantescas, por sinal, dá para dividir tranquilamente. E ainda tem cervejas locais (como a da foto acima).

Restaurante Opera

b) Opera (1301 S Wabash Ave): na região ao sul do Loop, fica próximo ao Field Museum e ao Shedd Aquarium; a estação de metrô mais próxima é a Roosevelt (linhas vermelha, laranja ou verde). Dada a proximidade, almoçamos lá antes de fazer nosso passeio na beira do lago (de que falei nesse texto). Estava meio vazio, mas adorei a decoração oriental meio kitsch do lugar. Como a Chinatown de Chicago não fica muito longe dali, é essa a orientação do cardápio. E também tem cervejas locais!

Cerveja Krank Shaft no Opera

c) Nacional 27 (325 W Huron St): no bairro do Near North, fomos lá porque era perto do nosso hotel. Com pratos inspirados em vários países da América Latina (há ceviches no cardápio, por exemplo), a principal fonte é mesmo a cozinha mexicana. Fomos jantar durante a semana e estava meio vazio, mas parece que nos finais de semana rola ritmos latinos em uma pista de dança que há no local.

7) Para os chocólatras

Se você é chocólatra como eu, não deixe de conhecer a loja Vosges Haut-Chocolat, em Old Town, pertinho da estação Armitage, das linhas marrom e roxa. A proprietária, Katrina Markoff, apresenta chocolates misturados a sabores bem diferentes do usual: não tive coragem de comer o chocolate com bacon, mas o de sal negro e caramelo era delicioso! Outras misturas exóticas incluem chocolates com blood orange, banana e curry indiano, para ficar só em alguns. As plaquinhas com caramelo e um toque de sal também estavam deliciosas, trouxe para casa e todo mundo gostou. Aliás, pode ser uma boa lembrancinha para a família e os amigos.

Chicago – 10 motivos para você conhecer (Parte 2)

Sears Tower, vista do passeio de barco no rio

Este texto é uma continuação desse aqui.

5) Subir na Sears Tower e sentir um frio na barriga enquanto pisa em uma de suas plataformas de vidro: talvez seja o programa mais “turistão” de uma viagem a Chicago, mas quem se importa? O prédio (cujo nome oficial é Willis Tower), mesmo antes da queda das Torres Gêmeas, já ocupava o posto de mais alto dos Estados Unidos.

Vista da Sears Tower

A torre foi planejada, claro, para servir à companhia Sears (que já teve lojas inclusive no Brasil); porém, atualmente, é ocupada por várias empresas. Tem 108 andares, mas o Skydeck, a plataforma de observação, fica no 103.° andar. As vistas da cidade e do lago são lindas, e de lá é possível ver como, além do miolo do “The Loop”, a altura dos prédios diminui consideravelmente. Aliás, de lá se vê como a cidade é espalhada.

Japinhas em uma das caixas de vidro da Sears Tower

O grande barato do passeio, contudo, é entrar em uma das “caixas de vidro” que se projetam da fachada do prédio. Instaladas recentemente (em 2009), essas estruturas permitem que o visitante “saia” do prédio e “flutue” sobre a cidade, vendo a rua Wacker Drive a seus pés, lá embaixo (são 412 metros de altura!). Confesso que fiquei meio receoso de início (tenho medo de altura), mas quando vi uma japonesa saltitando sobre a plataforma, concluí que era seguro. Depois do medo do primeiro passo, fui me acostumando com a sensação. A propósito, o andar é todo fechado, inclusive as janelas — não há uma parte externa de observação, como no Empire State Building, em Nova Iorque.

Vista da Sears Tower para o norte. O prédio preto ao fundo, com duas torres em cima, é o John Hancock Center

Outra opção para ver a cidade lá de cima, (um pouco) mais baixa, é o John Hancock Center, mais ao norte da cidade. O observatório fica no 94.° andar, mas é possível tomar um drink apreciando a vista no Signature Lounge, que fica no 96.° andar.

Uma das cúpulas do Chicago Cultural Center

6) Admirar as cúpulas de vidro da antiga Biblioteca: o Chicago Cultural Center fica no centro da cidade, bem em frente à Wrigley Square do Millennium Park, e foi originalmente a Biblioteca Pública da cidade. Hoje em dia, abriga um escritório de turismo, onde é possível pegar informações sobre o prédio e sobre a cidade — a tia que nos atendeu foi simpaticíssima e teceu vários elogios ao Brasil, que ela havia conhecido há pouco tempo. Também tem exibições de arte e concertos na hora do almoço (veja a programação no escritório de turismo).

A outra cúpula do Chicago Cultural Center

Mas o grande objetivo da visita é ver as duas cúpulas de vidro gigantescas criadas por Louis Comfort Tiffany, uma das quais é a maior do mundo. Lindamente decoradas, as cúpulas são verdadeiros vitrais e enchem os olhos e o prédio de uma luz especial.

Pizzaria Uno, onde supostamente a iguaria foi inventada

7) Experimentar a famosa pizza de Chicago: essa famosa “iguaria” de Chicago mais parece uma torta que uma pizza. Tem uma massa alta, assada numa espécie de forma-assadeira redonda e alta. Não há muito consenso sobre o lugar que teria inventado esta receita local de pizza, mas um dos principais restaurantes apontados é a Pizzaria Uno (29 E Ohio St, na área de Near North), onde fomos. Dada a fama do lugar, chegue cedo, ou prepare-se para esperar um pouco. A decoração do lugar não tem nada de sofisticada, mas faz você se sentir dentro de um típico restaurante americano, o que torna a experiência, na minha opinião, interessante.

A cara da pizza...

Nossa pizza veio com pimentões, cebola, tomate e champignons por cima e, se eu me lembro bem, não há muitas variações (embora, salvo engano, haja uma versão mais simples, com menos “adereços”). É uma delícia, mas é também uma bomba: a desculpa perfeita que você estava procurando para sair da dieta, principalmente se a pizza for acompanhada de uma das cervejas que eles servem no local. Essa pizza da foto é tamanho pequeno, mas há versões maiores; ela foi, porém, perfeitamente suficiente para encher duas pessoas. Vá por mim, só peça uma maior se você estiver com mais pessoas, ou prepare-se para deixar muita comida no prato.

Não experimentei, mas, de acordo com o guia do Lonely Planet, a cadeia Giordano’s, com vários restaurantes pela cidade, oferece opções honestas caso a espera da Uno esteja muito longa.

Detalhe do mural "As Quatro Estações", de Marc Chagall

8) Andar pelo centro e descobrir obras de grandes nomes da arte: como eu mencionei no início da primeira parte do texto, o centro da cidade, conhecido como “The Loop”, é um verdadeiro museu a céu aberto, reunindo obras de artistas consagrados. Poucas cidades no mundo talvez ofereçam em suas ruas uma oferta tão qualificada de obras de arte — o que não deixa de dar uma certa invejinha. Não deixa de ser uma forma de democratizar o acesso à arte: afinal, ver um Picasso na esquina e não dentro de um museu certamente muda um pouco os paradigmas. Aqui vai um pequeno guia das principais obras:

Chicago, de Joan Miró

a) Chicago, de Joan Miró (69 W Washington St): lembra as esculturas do Miró que estão no Museu Reina Sofia em Madri ou na Fundação dele em Barcelona, mas num tamanho bem maior.

Picasso

b) Sem Título, de Pablo Picasso (50 W Washington St): pertinho da escultura do Miró, embora não tenha título, a escultura lembra um babuíno metálico gigante.

As Quatro Estações, de Marc Chagall

c) As Quatro Estações, de Marc Chagall (praça perto da esquina entre a Dearborn e a Monroe St): é, na verdade, um mural em forma de mosaico, bem ao estilo Chagall.

Flamingo, de Alexander Calder

d) Flamingo, de Alexander Calder (esquina das ruas Dearborn e Adams, em frente ao Kluczynski Federal Building): o pai dos móbiles modernos deu sua contribuição à arte de Chicago com essa linda escultura abstrata vermelha, que constrasta com as linhas retas e os vidros pretos do Kluczynski Federal Building, outro prédio do Mies van der Rohe.

Monument with Standing Beast, de Jean Dubuffet

e) Monument with Standing Beast, de Jean Dubuffet (100 W Randolph St): uma forma branca abstrata feita de fibra de vidro, com seus contornos bem delineados, parece ter sido desenhada à mão e recortada em um papel.

O "El" passando em frente à Harold Washington Library Center

9) Pegar o “El”, o famoso metrô elevado de Chicago, e ir parar em algum bairro residencial da cidade, conhecendo um outro lado dela: como disse acima, fora do miolo do The Loop, a cidade é bem diferente, com menos arranhacéus e um ar mais residencial. Ao norte há distritos como Near North, Gold Coast, Lakeview e Wrigleyville, com restaurantes, lojas e bares que podem render um bom passeio de algumas horas.

A estrutura do "El" sobre as ruas do centro da cidade

Mas o legal é pegar o metrô elevado da cidade para fazer o passeio, que faz você se sentir em um dos muitos filmes ou séries que se passam em Chicago, como “Curtindo a Vida Adoidado” ou “E.R.” (que ganhou na Globo o nome de “Plantão Médico”). O metrô elevado é algo que em qualquer outra cidade poderia ser sinônimo de degradação urbana (imagine morar perto de uma linha elevada de metrô), mas que acabou virando um dos símbolos de Chicago.

O apelido “El” (ou simplesmente “L”), aliás, vem de elevated em inglês. Apesar disso, algumas estações no centro da cidade são subterrâneas. O “El” chega até os aeroportos O’Hare e Midway e é possível comprar bilhetes múltiplos para vários dias (pretendo falar disso em outro texto).

Sobremesa no Blackbird

10) Aproveitar o crescente circuito gastronômico de Chicago: para quem não quer ficar só na pizza, Chicago tem ganhado destaque dentro dos Estados Unidos como destino gastronômico e conta com vários restaurantes estrelados no Guia Michelin. O precursor parece ter sido Charlie Trotter, e seu restaurante (chamado de… Charlie Trotter’s) tem duas estrelas do guia. Ainda assim, não me animei a conhecê-lo, pois fiquei com a impressão de que é um lugar muito formal (exige-se paletó, e os cozinheiros não podem rir na cozinha!!!)

Quis muito conhecer o restaurante Avec, da chef Koren Grieveson, recomendado tanto pelo Lonely Planet como pelo guia do Wallpaper, que parece não ser muito caro, tem uma decoração interessante (parece uma caixa de madeira), com algumas mesas comunais, sem contar o menu em si (tâmaras com bacon defumado chamaram minha atenção!). Só que estava fechado! Acabei indo no Blackbird (uma estrela do Michelin), que fica ao lado e tem a ajuda do mesmo chef executivo, Paul Kahan. O que eu achei: nos deixaram esperando do lado de fora, onde fazia um pouco de frio (não havia feito reserva porque era uma terça-feira e no hotel onde estava não acharam necessário). Depois de entrarmos, o atendimento foi atencioso, a comida estava boa (mas não achei inesquecível), e o preço foi um pouco salgado. O mesmo “grupo” ainda tem outro restaurante nas redondezas: o The Publican.

Parece que a tal culinária molecular também faz sucesso lá. O Alinea, do chef Grant Achatz, já foi mencionado pela jornalista Alexandra Forbes, do blog Boa Vida. E tem mantido suas 3 estrelas do Guia Michelin. Também achei interessante o Topolobampo, de comida mexicana, um dos preferidos na cidade pelo casal Obama (uma estrela no Michelin). Também chamaram minha atenção o Hot Chocolate e o Green Zebra, para os vegetarianos.

De todo modo, o que é preciso dizer é que você vai ter que sair do Loop para comer melhor. A região a oeste do Loop (que, assim como o Meatpacking District de Nova Iorque, já foi uma área de frigoríficos), principalmente a W Randolph St, se estabeleceu como um dos destinos gastronômicos: basta ver que, das minhas dicas, o Avec, o Blackbird, o The Publican e o Hot Chocolate ficam na região. Ir para o norte — para as áreas de Near North, Gold Coast e Lakeview — também é uma boa aposta.

Então, o que você está esperando para conhecer a cidade da Oprah e do Obama? Renovada e revitalizada, a cidade tem uma vibe de que é a próxima aposta americana, de que está em ascensão. E seus simpáticos habitantes, que ainda não adquiriram aquele ar blasé dos novaiorquinos, ficam orgulhosos de mostrá-la a quem se aventura por aquelas paragens.

Chicago – 10 motivos para você conhecer (Parte 1)

Chicago

Estava querendo escrever um texto sobre Chicago há tempos! Na viagem que fiz aos Estados Unidos em 2010, Chicago talvez tenha sido a grande surpresa. Certo, é uma cidade cheia de arranhacéus, mas isso não significa que ela seja feia ou opressora. Na verdade, os prédios altos ocupam só mesmo o miolo de Chicago; olhando-a por cima, dá para ver que o resto da cidade é bem menos vertical e bastante esparramado. Além do mais, o Lago Michigan — que mais parece um mar de tão grande — faz um contraponto ao mar de prédios.

O lago e os prédios vistos da Sears Tower

Chicago também é uma cidade que respira arte. O Art Institut of Chicago tem um acervo que não deixa nada a dever aos museus de Nova Iorque e de Washington. Há, ainda, esculturas de artistas como Picasso, Miró, Calder e Chagall encrustradas no centro da cidade, ao ar livre, para que qualquer um possa admirá-las. Alguns dos citados prédios são verdadeiras obras de arte da arquitetura moderna, desenhados por arquitetos de peso, como o holandês Mies van der Rohe; já o canadense Frank Gehry, o mesmo arquiteto que fez o Guggenheim de Bilbao, assinou um auditório de música no Millennium Park. E há ainda um circuito de teatros para aqueles com alguma saudade da Broadway.

Como eu fui em 2010, minhas observações são meio genéricas. Na verdade, meu objetivo com esse texto é mais convencer o leitor a visitar esta cidade que costuma ficar de fora dos roteiros da maioria dos brasileiros que visitam os Estados Unidos. Aqui vão meus 10 motivos para conhecer a “Windy City”, como Chicago é conhecida:

Calçadão em frente ao Lago Michigan

1) Fazer um passeio à pé pela margem do Lago Michigan até o Planetário Adler: como afirmei acima, o Lago Michigan, visto de sua margem ou mesmo do alto dos prédios do centro de Chicago, é bem vasto, perde-se de vista, dando a impressão de um mar bem calmo. Não vi se algum barco faz passeios por ele, mas um simples passeio pela margem já serve para apreciar sua beleza e ver o contraste entre as águas calmas de um lado, e o “mar de prédios” do outro. É impressionante como dois elementos tão distintos parecem harmonizar-se perfeitamente ali.

Buckingham Fountain

A partir do Millenium Park, aproxime-se da margem e comece a descer, rumo ao sul. Você logo verá a linda Buckingham Fountain, na área que já é chamada de Grant Park (embora a separação em relação ao Millenium Park parece ser apenas de uma rua). Embora exista uma avenida que acompanha a margem do lago, o calçadão (lakefront path) é amplo e bem tranquilo.

Shedd Aquarium

Siga descendo e logo você vai chegar ao Shedd Aquarium, o mais antigo do mundo! Não o visitei, mas há um mirante por ali de onde já é possível tirar lindas fotos. Mais adiante você verá o Field Museum, outra atração que pode servir de pausa no passeio. É um museu de história natural, e tem como grande atração Sue, a ossada mais completa de um Tyrannosaurus rex já encontrada!

Field Museum

Planetário Adler

Eu preferi contornar o aquário por fora e seguir pelo longo caminho que leva até o Planetário Adler, com sua linda cúpula. Na verdade, ele fica na ponta de uma península que avança sobre o lago. Como ele fica projetado, “entrando” no lago, as vistas dali são lindas! O planetário é o mais antigo das Américas e tem apresentações frequentes. Se você não quiser ver nenhuma apresentação, pode visitar só o prédio, onde há uma exposição abordando as descobertas sobre o universo e com alguns artefatos das expedições espaciais americanas; nesse caso, paga-se um valor só para a admissão (há um ingresso promocional que combina a visita com algum show). Independentemente de você visitar ou não o planetário por dentro, se o dia estiver bonito (como estava quando eu fui), não deixe de sentar-se um pouco no gramado do planetário para apreciar a vista da cidade e do lago.

Planetário Adler

Jardim em frente ao planetário e sua linda vista

Também às margens do lago, mas ao norte do caminho aqui descrito (depois do rio), fica o Navy Pier, com um daqueles parques de diversão típicos de filmes americanos — há uma roda gigante com mais de 40 metros de altura!

Cloud Gate, a grande atração do Millennium Park

2) Ver a arte por um outro prisma no Millennium Park: bem central, logo ao norte do Art Institut of Chicago, o Millennium Park é um dos lugares mais visitados da cidade. As grandes atrações do parque são intervenções de arte contemporânea que mostram como é possível (e interessante) mesclar obras de arte em um espaço público aberto.

Cidade e pessoas refletidas no Cloud Gate

A mais famosa delas, o Cloud Gate (apelidado carinhosamente de The Bean, ou “O Feijão”), é uma escultura gigantesca do artista anglo-indiano Anish Kapoor, feita de aço, com o formato de um… feijão (ou portão, você escolhe). O cloud do nome deve-se ao fato de que a estrutura é tão polida que reflete o céu. Mas todo mundo fica brincando de ver o próprio reflexo em diferentes formas, e que rendem muitas fotos legais.

Imagem projetada em um dos blocos da Crown Fountain

Outra obra/escultura/instalação do Millennium Park é a Crown Fountain. São duas “torres” de granito, uma de frente para a outra, mas com um grande espelho d’água entre ambas. O legal é que na parte de frente das torres há uma espécie de tela em que são exibidos vídeos — quando eu fui presenciei esse divertido vídeo de gente cuspindo água (foto acima).

Pritzker Pavilion

Também no parque fica o Jay Pritzker Pavilion, uma “concha” multiforme destinada principalmente a apresentações de música clássica (mas também para outras performances artísticas). Foi desenhado pelo arquiteto Frank Gehry, o mesmo do Guggenheim de Bilbao, e tem aquelas placas curvas, típicas do arquiteto e também presentes no museu espanhol. A maioria das apresentações são públicas: há alguns assentos fixos, mas muita gente senta no gramado mesmo.

Wrigley Square

Também no parque ficam a Wrigley Square — um semicírculo de colunas ao redor de uma fonte, cujo nome homenageia os doadores da família do magnata do chiclete William Wrigley Jr — e o Lurie Garden, com plantas nativas da região de Chicago.

Lurie Garden

Art Institute of Chicago, com seus leões

3) Conhecer o Art Institute of Chicago e apreciar obras-primas da arte americana: o acervo do Instituto de Arte de Chicago é enorme, equiparando-o, por exemplo, ao Metropolitan Museum em Nova Iorque. Há as tradicionais alas destinadas a artefatos egípcios, asiáticos, e à arte greco-romana. Há também um bom acervo de arte europeia e de impressionistas (como o Sisley que eu coloquei abaixo).

Quadro de Alfred Sisley

Art Institute of Chicago, Modern Wing

O Art Institute of Chicago tem atualmente dois prédios: o da frente, em estilo clássico, é vigiado por leões que são um dos símbolos da cidade; o anexo, chamado “Modern Wing”, do arquiteto italiano Renzo Piano, foi inaugurado em 2009.

Nighthawks, Edward Hopper

Mas meu grande interesse em visitar o museu foi ver algumas obras-primas da arte dos Estados Unidos, como coisas da Georgia O’Keeffe (que estudou lá) ou esse lindo quadro do Edward Hopper que me emocionou bastante ao vivo…

 

Passeio de barco pelo Rio Chicago

4) Fazer um passeio pelo rio que corta Chicago e ver seus arranhacéus por outros ângulos: se o tempo permitir (se você não for no auge do inverno ou se não estiver chovendo muito), recomendo com entusiasmo um passeio de barco pelo rio Chicago. Organizado pela Chicago Architecture Foundation, o passeio permite ver a área central da cidade (conhecida como “The Loop”) e boa parte dos prédios que a compõem de um ângulo diferente.

Nossa adorável guía

Os ingressos são vendidos na lojinha da fundação, localizada na Michigan Avenue, bem em frente ao Art Institute of Chicago. Já os barcos saem perto da ponte da Michigan Avenue que cruza o rio. Nossa guia era uma simpática senhora que sabia tudo sobre os prédios que nos circundavam e que apareciam a medida que o barco avançava. Ela nos contou que Chicago foi praticamente destruída em um incêndio em 1871 (colocaram a culpa em uma pobre vaca, depois a redimiram) e que, assim, a reconstrução foi oferecida a jovens e ousados arquitetos, que fundaram o que ficou conhecido como “Escola de Chicago”.

Tribune Tower

Wrigley Building e sua torre do relógio

Marina City, ou "Sabugo de Milho"

Chamaram a minha atenção, durante o passeio, a Tribune Tower, em estilo neogótico (onde funciona o Chicago Tribune); o Wrigley Building, com sua torre do relógio em estilo clássico; o Marina City (também conhecido como “Sabugo de Milho”, pela semelhança), uma tentativa de trazer de volta residentes para a área central da cidade; o IBM Plaza, projetado pelo arquiteto holandês Mies van der Rohe; a fachada sóbria e gigantesca do Merchandise Mart; a Sears Tower, claro, de que falarei a seguir; a Lake Point Tower, já perto do lago, com três pontas arredondadas, super exclusiva por estar sozinha em uma península; e o Aqua, com suas formas orgânicas que se projetam para fora do prédio.

IBM Plaza, do Mies van der Rohe

Merchandise Mart

A imponente e isolada Lake Point Tower

As projeções "orgânicas" do Aqua